(Ricardo Bastos)
De município do progresso a “cidade-fantasma”. Essa é a história de Raposos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde foi explorada a primeira mina de ouro subterrânea do país (em 1834): a mina de Morro Velho, pelos ingleses da St. John D’el Rey Mining.
Hoje, sem nenhuma indústria, a prefeitura é o maior empregador do município, e a cidade, segundo contam os moradores, se limita a servir de dormitório para quem trabalha em Belo Horizonte e Nova Lima.
O fim da exploração de ouro pela sucessora dos ingleses, a sul-africana Anglo Gold Ashanti, em Raposos, há 15 anos, instalou uma crise no município que parece eterna.
A concentração da economia local em uma única atividade durante quase dois séculos causou impactos econômicos e sociais graves.
Há 50 anos, Roberto Gonçalves Fabiano tem uma loja de materiais de construção. Desde que a mina deixou de ser operada, os negócios minguaram.
“As vendas caíram pelo menos 40% em relação ao tempo de cidade mineradora porque o consumo é todo fora da cidade. Quando preciso, é difícil contratar porque todo mundo trabalha fora”, afirmou. O caso de Roberto Fabiano é semelhante aos dos comerciantes de outros segmentos.
“A mina empregava cerca de 3 mil pessoas. Quando fechou, os trabalhadores foram procurar emprego em Belo Horizonte. Moram aqui e trabalham lá, consomem lá e só dormem aqui. O meu mês, como comerciante, tem 12 dias. Depois, ninguém mais tem dinheiro para nada”, disse João Bosco Araújo, dono de um armarinho em Raposos desde 1976.
Ele lembra que a cidade era próspera. “Aqui tinha tudo o que as outras cidades tinham, o dinheiro circulava, a cidade sempre estava cheia. Eu comprava caminhões de madeira direto do fabricante. Hoje, compro picado de distribuidores”, observou João Bosco.
Silicose
A mineração, porém, cobrava uma conta muito alta pelo progresso. “Meu pai trabalhou para os ingleses na mina, e acabou com silicose. Na época era normal”.
Silicose é uma doença causada pela inalação por longo período do pó de sílica, principal elemento que constitui a areia. O pó inalado enrijece os pulmões e causa problemas respiratórios. Não existe cura.