(Sergio Zacchi)
A expectativa de que o Banco Central volte a cortar a taxa básica de juro (Selic) ainda neste ano, refletida no recuo dos juros futuros, reforça a tendência de migração de investimentos das aplicações conservadoras para títulos de maior risco, mas mais rentáveis, como as debêntures. Esses papéis, que embutem risco privado, são emitidos por empresas que buscam recursos para financiar investimentos ou capital de giro.
As debêntures, além de proporcionar rendimentos maiores do que os de outras aplicações de renda fixa, como CDB, DI e fundos referenciados, ganharam recentemente a vantagem da isenção de Imposto de Renda e de IOF para pessoas físicas no rendimento e no ganho de capital quando emitidas para financiamento de projetos de infraestrutura.
Segundo o gerente-executivo de Relações e Projetos da integradora do mercado financeiro Cetip, Ricardo Magalhães, esses são os maiores atrativos desses papéis, que despontaram a partir de 2012.
Crescimento
Em junho daquele ano, o estoque de debêntures na Cetip era de R$ 450 milhões e, no mês passado, chegou a R$ 12,65 bilhões. “As pessoas começaram a buscar melhores ganhos em cima do risco das empresas e de ativos isentos de tributos. A alíquota zerada é um ganho adicional”, afirma Magalhães.
Para quem procura ativos com esse perfil, as debêntures devem ser negociadas por meio de instituições credenciadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), segundo o professor do curso de Economia do Ibmec/MG e gestor de Recursos de Terceiros, Ricardo Fonseca Couto. “O caminho é entrar em contato com corretores que tenham no portfólio títulos privados.”, diz.
Estratégia de diversificação torna papéis interessantes
A emissão de debêntures tornou-se uma alternativa de capitalização interessante às empresas do setor de infraestrutura, principalmente em função dos incentivos do governo federal (a exemplo da isenção tributária para investidores pessoas físicas). Como esses papéis são normalmente lastreados em grandes projetos, garantem retorno superior aos dos títulos públicos.
“As debêntures oferecem diversificação de carteira e, pelo fato de o risco ser maior, o retorno também é. Essa relação risco-retorno é interessante”, afirma Ricardo Couto, do Ibmec/MG.
Por outro lado, esses títulos apresentam pouca liquidez, ou seja, quem quiser obter o retorno antes do prazo estabelecido e precisar vender os papéis não encontrará facilmente compradores, ou o desconto será alto, conforme avalia Ricardo Magalhães, da Cetip.
“Outra desvantagem é que trata-se de um investimento de longo prazo, de no mínimo quatro anos. Há debêntures do aeroporto de Viracopos (Campinas), por exemplo, que remuneram de inflação mais 8,79%, mas o resgate é para 2025. Outra coisa: diferentemente da poupança, que tem garantias mesmo se houver problema com banco, nesse caso o risco (de calote) é privado”, diz.
Para os especialistas, as debêntures de infraestrutura são, sim, um bom investimento, desde que os riscos sejam bem compreendidos e avaliados pelos investidores.