Revendedoras apostam em mimos e facilidades para compensar a alta do preço do carro

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
08/02/2015 às 08:13.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:57

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

O brasileiro que normalmente reserva o início de ano para a troca do carro por um zero quilômetro ou por um modelo mais novo terá que desembolsar uma quantia maior em 2015. Além do retorno do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), o consumidor enfrentará juros e encargos mais altos, além de crédito escasso. A elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1,50% para 3% também contribui para deixar a vida de quem sonha em comprar um automóvel mais complicada. Diante do cenário difícil, concessionárias oferecem promoções, encurtam margens de lucros e já admitem corte de pessoal.   “Só o IOF onera em pelo menos R$ 30 a prestação mensal do carro. Então, o momento nos exige um esforço a mais para vender. A Honda e as concessionárias da montadora não repassaram o IPI e mantiveram os preços. Neste mês, o consumidor também não paga emplacamento ou despesa com despachante. É um jeito de compensar o cliente”, diz o gerente de vendas de veículos novos da Banzai, Carlos Henrique de Castro.    Segundo ele, um Honda Fit LX Automático 2015 com pintura não-metálica custa hoje R$ 58,8 mil, mesmo preço da tabela antiga. Já o valor do Honda City foi mantido em R$ 62,9 mil.    Castro cita ainda as taxas “especiais” como forma de conquistar o motorista. “O Banco Honda tem trabalhado com juros competitivos, de 1,29% ao mês em financiamentos de até 36 vezes, com entrada de 30%”, detalha. Último levantamento do Banco Central (BC), de 13 a 19 de janeiro, mostra que as taxas praticadas pelas instituições financeiras variaram de 0,84% a 3,72% ao mês. No ano, os índices oscilaram entre 10,60% e 54,98%.    Para o diretor da Forlan, Salvino Pires Sobrinho, fevereiro será a prova de como se comportará o mercado daqui pra frente. “Em janeiro, ainda tínhamos muitos carros modelo 2014 com o IPI antigo. Tanto que veículos como Ford Ka e Fiesta praticamente acabaram. Agora só há carros com padrão mais alto, como Eco Sport e Focus. Com o fim do estoque, vai ser mais difícil vender”, diz.    Com o retorno do IPI, um veículo de R$ 50 mil passa a custar cerca de R$ 54 mil, calcula ele. E a prestação que era de R$ 600 pode pular para até R$ 800, por exemplo. “Muita gente deixa de comprar”, lamenta.   Para driblar a crise, a receita de Salvino Sobrinho é bom atendimento, margem de lucro mais enxuta, diminuição da produção nas fábricas e ajuste nos custos. “Provavelmente haverá redução de funcionários”, afirma. A dificuldade em conseguir crédito é outro fator que deve frear as vendas. “Com a economia mais fria, os bancos estão mais seletivos. Temem conceder empréstimo para a pessoa que poderá perder o emprego”, diz.   Na Osaka, janeiro já foi um mês difícil. “Sofremos mais em relação à concorrência porque a Toyota trabalha com estoques menores. Para atrair o cliente, lançamos uma promoção de taxa zero”, propaga o diretor Aires Valim. O SW4, que custa R$ 189 mil, está sendo vendido em 24 vezes “sem juros” e 60% de entrada. Mesma condição é oferecida na linha Hillux (R$ 159,9 mil). Ainda segundo ele, 40% dos clientes da concessionária recorrem a financiamento para aquisição do veículo.    Motoristas endinheirados clientes da Audi Center BH, do grupo Bonsucesso, também sucumbem às prestações. E são agraciados com desconto e tratamento vip. Segundo o superintendente Miguel Albino, a concessionária viu em dezembro de 2014 a chance de estocar mais veículos com o custo antigo do IPI para assegurar uma boa oportunidade de compra à clientela que deseja ter um zero quilômetro na garagem no início deste ano.    “Mesmo diante do bom volume de vendas de janeiro último, ainda temos cerca de 20 veículos no estoque sem o aumento do IPI e ainda com condições únicas. Dependendo do carro, os bônus vão de IPVA 2015 totalmente pago e parcelamento sem juros em até 24 vezes”, afirma Albino. Um dos modelos de entrada da marca alemã, o Audi A3 Sedan, que tem preço a partir de R$106,9 mil, neste mês sai da concessionária por R$99,9 mil com IPVA quitado.      Até carrões têm descontos e podem ser pagos em parcelas   A concessão mais seletiva do crédito e a elevação dos encargos já repercute negativamente no setor automotivo, avalia o diretor da Mila, Antônio João Teixeira.    “Estamos fazendo ações para aumentar as vendas. O preço do Passat Variant, por exemplo, caiu de R$ 145 mil para R$ 130 mil. Já o Fusca passou de R$ 120 mil para R$ 90 mil. Tudo em 18 vezes sem juros com 50% de entrada”, detalha o diretor da concessionária Volkswagen.   Para o vice-presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG), Mauro Pinto de Moraes, o mercado, que já está ruim, deve piorar ainda mais nos próximos meses, com o aumento dos encargos. Em janeiro, na comparação com dezembro, a venda de carros no país despencou 31%.    “O consumidor está pagando juros mais altos. Com a elevação do IOF, as mensalidades terão um acréscimo”, afirma o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.   No entanto, ele não acredita que haja uma migração do CDC (Crédito Direto ao Consumidor) para o leasing, que é um arrendamento mercantil. “Sobre o leasing não há incidência de IOF, mas em contrapartida há cobrança de ISS (Imposto Sobre Serviço), que geralmente é elevado em cidades grandes. Além disso, essa modalidade impede que o carro seja negociado, já que fica no nome do banco, e não no nome do comprador”, compara.   Segundo Oliveira, as regras da operação também são mais engessadas, com descontos menores nos juros em caso de liquidação antecipada da dívida. “Antes de decidir, o consumidor deve fazer a conta na ponta do lápis e pesar prós e contras”, indica.   O diretor da Anefac admite que a tentação diante de promoções, especialmente no caso do carro, sonho de consumo dos brasileiros, é grande. Mas alerta que o “barato” pode acabar saindo caro. “Será um ano difícil, com economia fraca, inflação e tendência de aumento do desemprego. Assumir uma dívida alta pode ser arriscado”, diz.

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