Sindicância no IBGE sobre "erro grave" deve durar 30 dias

Estadão Conteúdo
Publicado em 21/09/2014 às 11:15.Atualizado em 18/11/2021 às 04:17.

O governo aproveitou o erro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados sociais para atacar os críticos. O posicionamento coube à ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, que fechou no sábado (20) uma coletiva de imprensa organizada sob ordens da presidente Dilma Rousseff para comentar a versão corrigida da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). "É um aprendizado grande para o País, porque mostra que a avaliação de políticas públicas deve se focar em tendências. Todo mundo que se apegou a micro variações de 0,01 ponto para cima ou para baixo em um indicador, como o índice de Gini, errou também", disse Tereza Campello.

Já a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, após dizer que a presidente Dilma ficou "perplexa" com o erro, anunciou que poderão ser impostas medidas "funcionais" aos responsáveis, mas ressalvou que qualquer punição só ocorrerá ao final das investigações, que deverão durar, pelo menos, 30 dias. Apesar de a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, estar sendo "fritada" pelo Planalto, Miriam não quis anunciar sua provável saída e não quis falar em perda de sustentação política dela no cargo.

A ministra do Planejamento admitiu que o caso ganha contornos políticos sérios por conta do período eleitoral. Faltam apenas 15 dias para o primeiro turno. "Acho que o período eleitoral aumenta a amplitude das coisas", disse Miriam.

A ministra Tereza, ao fazer referência ao ponto mais popular da Pnad, o índice de Gini, explicou que esse indicador mede a desigualdade de renda domiciliar. Na versão original da Pnad 2013, divulgada na quinta-feira, o índice apresentou uma leve elevação da desigualdade no Brasil entre 2012 e 2013, quando o indicador passou de 0,496 para 0,498 (quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade). Mas os dados estavam errados. No dia seguinte, sexta-feira, os dados verdadeiros indicaram pequena queda na desigualdade, para 0,495. "A tendência é de melhora da renda de todos os brasileiros. O Brasil continua melhorando apesar da crise internacional. Isso sim é importante", disse a ministra.

Pouco antes, Miriam Belchior havia afirmado que, ainda na quinta-feira, o IBGE começou a ser alertado de que os dados estavam incorretos. "Órgãos de dentro e de fora do governo fizeram pedidos de esclarecimentos ao IBGE ainda na quinta-feira, e aquilo alertou os técnicos de que havia problemas. Na manhã de sexta-feira, fui informada pela primeira vez que o IBGE estava apurando erros na Pnad. No fim da manhã, a presidente do IBGE voltou a me procurar, dessa vez com a certeza de que a Pnad estava errada e que o instituto já estava trabalhando com os dados corretos", disse Miriam. "O governo ficou chocado com esse erro gravíssimo do IBGE. A presidente Dilma ficou perplexa. O erro foi muito grave mesmo."

Sobre uma possível demissão da presidente do IBGE, a ministra do Planejamento foi evasiva: "Criamos duas comissões para averiguar os erros e atribuir responsabilidades. Não posso me antecipar".

Queda

Em sua apresentação para defender os novos dados revisados da Pnad, o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Marcelo Neri, assegurou que houve uma trajetória de queda das desigualdades, mas reconheceu que "não é uma queda espetacular". Para 2014, porém, ele anunciou que a desigualdade está mantendo queda, "como um relógio, de 0,01% ao mês". E prometeu ainda, sem apresentar dados, que em 2014 a redução da desigualdade "será a maior dos últimos dez anos".

Neri reagiu às críticas à credibilidade do IBGE, por conta da necessidade de correção dos dados. "O que arranha a credibilidade é não reconhecer os erros." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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