(Cristiano Machado/Hoje em Dia)
A escalada inflacionária, que já chega a 9,3% no acumulado dos últimos 12 meses – bem acima do teto da meta do Banco Central para o ano (5,25%) –, ganhou novo e indigesto ingrediente.
O anúncio da criação de uma bandeira tarifária extra para as contas de energia elétrica (a “bandeira da escassez”, que eleva a bandeira vermelha 2, empregada hoje, de R$ 9,49 para R$ 14,20, a cada 100 kw consumidos), feito pelo governo federal, irá onerar ainda mais os custos dos consumidores e dos setores produtivos.
Um dos exemplos do impacto será sentido na conta de luz, que ficará em média 6,78% mais cara. O preço do pãozinho de todo dia também deverá ser afetado, já que a energia elétrica tem um peso de pelo menos 12% no total gasto para produzir o alimento.
Segundo o economista Rafael Foscarini, o aumento da energia deve turbinar a inflação, principalmente pelo fato de a cobrança ser estendida até abril de 2021. “Os últimos aumentos já causaram impactos, mas esse vai gerar efeito mais prolongado, pela incerteza de duração da atual crise hídrica”, explica.
Produção
A performance das indústrias sofrerá impacto direto da nova bandeira. Segundo a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), os setores mais afetados devem ser os eletrointensivos, como as produtoras de ferroligas, gás industrial, siderurgia e borracha. Para o vice-presidente da Fiemg, Márcio Danilo Costa, o aumento de custo não é bom para o setor produtivo, mas a medida tomada pelo governo é necessária para custear o acionamento das termelétricas. “Só há atendimento à carga se houver acionamento dessas usinas porque a ‘caixa d’água’ está vazia. Vamos perder em competitividade e haverá aumento nos custos dos produtos, mas não há outra saída”, destaca o dirigente.
Repasse de preços
Com a conta de energia ainda mais cara, os donos de bares e restaurantes também preveem repasse aos consumidores. “O aumento da energia elétrica é mais um complicador para o setor. Não há mais espaço para segurarmos tantos custos que só sobem a cada dia. O faturamento tem aumentado, mas isso não se reflete em lucro. Então, não há como represar mais o repasse aos preços”, afirma Matheus Daniel, presidente da Abrasel-MG.
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