Representantes da União Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) fecharam na madrugada de hoje um "acordo de princípios" com o governo do Chipre para socorrer seu sistema financeiro, com a injeção de 10 bilhões em recursos internacionais. O "plano B" cipriota, negociado à exaustão em Bruxelas, prevê a liquidação do segundo maior banco do país, além de um imposto de 25% sobre depósitos superiores a 100 mil de correntistas do Banco de Chipre.
A reunião "final", como vinha sendo chamada, teve início às 20h (16h de Brasília), com duas horas de atraso em relação ao horário previsto, e continuava após as 2h da madrugada de hoje. Desde a tarde, o presidente cipriota, Nicos Anastasiades, vinha reunido com o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, e do Eurogrupo (o fórum de ministros de Finanças da zona do euro), Jeroen Dijsselbloem, além da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Essa "força tarefa" visava analisar o "plano B" apresentado por Anastasiades para arrecadar um total de 7 bilhões - valor da contrapartida nacional a um resgate de 10 bilhões oferecido por Bruxelas e pelo FMI.
O "plano B" foi necessário depois que o parlamento do Chipre rejeitou na terça-feira um pacote de medidas que incluía a arrecadação de 5,8 bilhões originários de um confisco parcial sobre todas as contas bancárias com mais de 20 mil nos bancos do país. Pressionados pela opinião pública, que protestou nas principais cidades do país, os deputados votaram contra o projeto, deixando o país à beira da bancarrota.
Desde então, o governo e Bruxelas negociavam um pacote alternativo. No sábado, as tratativas se intensificaram. Na madrugada de hoje, o presidente cipriota confirmou o acerto. "Temos um acordo que vai ao encontro dos interesses do povo cipriota e da União Europeia", afirmou Anastasiades.
Segundo o acordo de "princípios" - que ainda precisava ser detalhado e terá de ser submetido ao parlamento -, o Chipre terá de adotar um programa estrito de consolidação fiscal, com reformas e privatizações, além de uma profunda reformulação de seu sistema financeiro - na qual o entendimento se concentra. O Banco de Chipre, o maior do país, será mantido, mas seus clientes - a maior parte investidores internacionais - terão de arcar com um corte de 25% de seus recursos. Já a segunda maior instituição do país, o Banco Popular ("Laiki", em grego), deverá ser extinta e fundida com o Banco de Chipre.
Segundo o entendimento, os clientes de menor renda serão poupados de qualquer perda. "Gostaria de enfatizar que nenhuma das medidas afetarão depósitos inferiores a 100 mil", garantiu Dijsselbloem, do Eurogrupo. "Estou convencido de que a solução que encontramos agora é melhor do que a que havíamos obtido na semana passada." Lagarde, diretora-gerente do FMI, celebrou o acordo. "Protegeremos os depósitos e limitaremos as ameaças aos dois maiores bancos".
Punição
As medidas tomadas contra o sistema financeiro cipriota foram uma forma de a UE "enquadrar" a ilha, considerada paraíso fiscal, impondo-lhe regras mais rígidas. Desde antes da reunião, o ministro da Economia da França, Pierre Moscovici, deixou claro que uma das intenções era reformar os bancos do país - usados em especial por investidores da Rússia. "É preciso assegurar a estabilidade da zona do euro", disse Luc Frieden, ministro das Finanças de Luxemburgo.
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