A confirmação, na quarta-feira, 14, por parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de um aumento em junho de 0,5% no volume de vendas do varejo restrito, após estabilidade anotada em maio, só confirma as expectativas de que o comércio fechará este ano com um crescimento moderado. Mas nem por isso o setor deverá alterar suas programações, o que indica que as costumeiras contratações temporárias de funcionários para o fim de ano serão mantidas. É o que disseram especialistas do comércio varejista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
Quando desagregadas por setores, as taxas chegam a se diferenciar, mas no agregado as expectativas apontam para uma expansão das vendas do varejo ao redor de 3% a 3,5%, nível bem inferior ao crescimento de 8,4% do ano passado, de acordo com apuração do Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE).
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mantém a projeção de crescimento de 3,5% nas vendas do setor em 2013. Em entrevista recente ao Broadcast, o economista da Abras Flávio Tayra disse que até o final do ano os supermercados devem registrar taxas de expansão semelhantes ao acumulado na primeira metade do ano, quando as vendas reais do setor cresceram 2,99%.
O vice-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), Fernando de Castro, avalia que as vendas de eletroeletrônicos deverão encerrar o ano com crescimento de 6,5% a 7%. "Estamos mantendo previsão", disse o executivo, acrescentando que o baixo desempenho das vendas do varejo em junho já era esperado como consequência da onda de manifestações populares.
De acordo com Castro, em decorrência dos protestos o horário de funcionamento das lojas de eletroeletrônicos diminuiu, em média, 10%. Para o segundo semestre, no entanto, o vice-presidente do IDV disse acreditar que as vendas se darão num volume superior ao do primeiro semestre. "As empresas estão mantendo a programação de contratações para o final do ano porque o Dia dos Pais foi de médio para bom enquanto as expectativas eram de vendas fracas", disse Castro.
O executivo do IDV salienta, ainda, que não se pode desconsiderar que o perfil do endividamento do consumidor esteja mudando. Antes as dívidas eram de curto prazo e hoje, com a expansão do consumo de bens de valores agregados maiores, como automóveis e imóveis, o consumidor passou a contar com menos recursos livres para gastar em produtos de menor valor. "O endividamento não está crescendo, mas agora parte dele é de 15 a 20 anos", disse.
A projeção do economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Fábio Pina, aponta para um crescimento de 1% no ano das vendas em São Paulo, segundo a Federação, e para uma expansão de 3,7% pela ótica da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE. "Os dados de atividade estão muito voláteis. Não se tem ainda um direcionamento claro, mas as vendas deverão crescer moderadamente", disse Pina.
Quanto às expectativas em relação às contratações temporárias para atender às vendas de final de ano, o economista da Fecomercio-SP avalia que os números costumeiramente divulgados não são confiáveis. "Para ser sincero, são dados que a gente nunca conseguiu apurar direito. Estamos tentando montar um modelo com dados do Caged (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego, do Ministério do Trabalho) para ver se conseguimos estimar este dado", disse o economista.
O importante, de acordo com Pina, é que, se neste ano o PIB vai crescer de 2% a 2,5%, o varejo deverá ter uma ampliação de 3% a 3,5%. O crédito, de acordo com ele, deverá crescer algo em torno de 10% neste ano. "A questão é que a qualidade do crédito está melhorando. Está crescendo mais o crédito para habitação, que tem prazos longos e juros baixos", explicou o economista da Fecomercio-SP.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, também aposta numa expansão bastante moderada do comércio varejista no segundo semestre. Tanto que revisou para baixo a previsão de 3,6% de crescimento das vendas em 2013 para 2,9%. Ele se guiou nos contatos com lojistas, segundo os quais o varejo está perdendo força em linha com a redução da confiança do consumidor.
A perda de dinamismo do varejo, segundo Agostini, não é um movimento decorrente apenas de fatores de curto prazo, mas também da política econômica do governo com ênfase no estímulo ao consumo via concessão de crédito. "Quando isso ocorre, o consumidor se endivida por mais tempo pela aquisição de bens de maior valor agregado, como veículos e imóveis, o que o faz reduzir as compras de outros bens", afirmou o economista. Além do endividamento do consumidor, a menor criação de empregos, a elevação da taxa de juros e a inflação corroendo o poder de compra das famílias contribuem para reduzir o ritmo do varejo.
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