As vendas de imóveis residenciais em Belo Horizonte despencaram 68% em abril sobre o mês anterior e os preços registram dois meses consecutivos de aumentos abaixo da inflação. Representantes do setor negam crise, mas admitem que colocaram o pé no freio após um período de excesso de euforia.
Com o recuo das vendas, o ritmo de construções também desacelerou. Empresários ouvidos pelo Hoje em Dia afirmam que as construtoras estão com estoques acima do normal e que uma retomada firme de novas construções é esperada apenas para o final de 2015. A expectativa é de estabilidade dos preços e novas quedas no volume de unidades vendidas não serão consideradas surpreendentes.
A pesquisa “Mercado Imobiliário em Belo Horizonte: Construção e Comercialização”, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), apontou retração nas vendas em todas as bases de comparação. Além da queda de 68% em abril, quando foram vendidas 125 unidades, contra 354 de março, houve redução de 60% em relação a abril de 2013, quando a comercialização totalizou 313 unidades.
De janeiro a abril, as vendas acumularam 820 unidades ante 1.139 do mesmo intervalo de 2013, queda de 28%.
“Não há crise, não existem empresas fechando. É um compasso de espera, uma parada no excesso de compra, para saber o que vai acontecer com a economia do Brasil. Quem construía seis prédios por ano, agora constrói três”, disse o presidente da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Otimar Bicalho.
Concentração
O levantamento revela que por padrões de imóveis residenciais, a queda está concentrada nos populares e nos de alto padrão. No padrão popular, foram vendidas em abril 93 unidades contra 262 do mês anterior. No alto padrão, depois de 64 unidades comercializadas em março, apenas 15 foram vendidas em abril.
A Geraes Construtora, há 25 anos no mercado, atua no segmento de alto padrão. Seu diretor comercial, Anderson Meneghin, avalia que as vendas menores serão uma nova realidade, pelo menos até o final de 2015.
‘As incertezas na economia afetaram a confiança do investidor em imóveis e do comprador em definitivo. Teremos que nos adaptar a um novo patamar de demanda, que deverá se reequilibrar em meados ou final de 2015”, disse. Até lá, o setor estará impactado pela grande oferta verificada atualmente.
No padrão popular, o diretor-geral da Somattos, Aurélio Resende, credita a redução nas vendas ao excesso de oferta. “Houve muito lançamento por que neste padrão de apartamentos existia uma lacuna histórica no mercado de Belo Horizonte. Mas os lançamento, além de excessivos em volume, vieram com preços muito altos, que agora cairam”, disse.
Para ele, as construtoras estão segurando os lançamentos esperando melhores preços e o ajuste da oferta e demanda vai demorar entre seis meses e uma ano.
Aprovações de projetos pela PBH em queda
O reequilíbrio entre a oferta e a demanda por imóveis novos em Belo Horizonte não deve demorar. Isso porque, se as vendas caíram, a aprovação de novos projetos imobiliários junto à Prefeitura de Belo Horizonte também recuou fortemente. Com poucos lançamentos e a redução paulatina dos estoques, a construção civil deve reagir em meados do próximo ano.
Entre janeiro e abril deste ano, receberam aprovação da PBH uma média de 97 projetos ao mês, recuo de 60,6% na comparação com os 160 aprovados mensalmente no segundo semestre do ano passado. Em abril, 77 projetos receberam o aval da PBH, menor volume desde o início do levantamento (julho de 2013), realizado pela Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG).
“Com as alterações na Lei de Uso e Ocupação do Solo sendo analisadas, e o mercado já menos demandante, as aprovações caíram. Parte disso se deve também a demora da PBH, que pode levar até seis meses para uma aprovação. Lá na frente isso pode ajudar a retomada do setor”, disse Otimar Bicalho, presidente da CMI/Secovi.
As alterações podem reduzir o coeficiente de aproveitamento das construções e, com isso, o potencial de venda das construtoras.