Exatos 25 dias depois de o país confirmar o primeiro caso de paciente com coronavírus – e somente 96 horas após a divulgação da primeira morte –, a doença que deixa o mundo em pânico deu sinais de que poderá causar efeitos colaterais na economia bem mais duradouros do que os inicialmente imaginados. Na mesma tarde em que o governo federal reviu a previsão do PIB deste ano de 2,1% para 0,02%, o ministro da Saúde informou que a Covid-19 deverá ter pico de casos em abril, maio e junho, com queda só de setembro em diante. A ordem, mais uma vez, foi reforçar o isolamento social – medida preventiva que ontem esvaziou ruas de Belo Horizonte, onde já está em vigor a proibição do funcionamento de vários pontos comerciais.
Shoppings, salões de beleza, academias e outras lojas não abriram as portas, atendendo ao decreto municipal publicado na quarta-feira. Um acordo entre lojistas e empregados do comércio, que permitiu a concessão de férias coletivas, ampliou o fechamento para outros estabelecimentos. Resultado: praticamente tudo fechado, exceto farmácias, supermercados, restaurantes e bares – esses puderam trabalhar, mas só com delivery.
“Vamos dar férias e depois de 30 dias, como será? Temos que pagar funcionários, temos que pagar aluguel. A situação é muito preocupante, principalmente para os pequenos empresários”, enfatiza Marco Antônio Gaspar, vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH).
Segundo ele, as micro e pequenas empresas são responsáveis por 60% dos empregos gerados e o segmento de comércio e serviços responde por cerca de 75% da economia de Belo Horizonte.
Além da suspensão de impostos, Marco Antônio Gaspar salienta que é necessário que os governos busquem, o mais rápido possível, uma solução para que os empresários sobrevivam durante a crise, agora ampliada, imposta pelo coronavírus.
Para fazer frente à perda inevitável de faturamento, e aos riscos de quebradeira e desemprego, a CDL enviou aos governos municipal, estadual e federal sugestões de uma série de medidas compensatórias. As solicitações vão de isenções e parcelamentos à prorrogação da cobrança de tributos.
Situação econômica pode se
agravar mais que o previsto
Embora as medidas adotadas pelo poder público sejam consideradas corretas diante da expansão do novo coronavírus, casos da determinação de quarentena e fechamento de estabelecimentos comerciais, as perspectivas para a economia brasileira se deterioram quase na mesma velocidade do aumento de casos confirmados da doença.
Segundo a professora de Economia da PUC Minas Ana Tereza Lanna Figueiredo, o cenário nas próximas semanas e meses é imprevisível, mas a projeção do PIB, revista na tarde de ontem pelo governo federal, parece até otimista, dado o quadro mundial dos efeitos da Covid-19.
“As coisas estão mudando muito rápido”, diz Ana Tereza. “Eu gostaria muito de acreditar nessa projeção de estabilidade (0,02%) do PIB, mas penso que não irá se manter. Sobretudo quando a gente se espelha no que está acontecendo no resto do mundo, como as reduções expressivas da produção industrial e do varejo ocorridas na China, no primeiro trimestre”, acrescenta.