Em meio a incertezas políticas, greve paralisa Tunísia

AFP
Publicado em 07/02/2013 às 21:39.Atualizado em 21/11/2021 às 00:49.

TUNÍSIA - O principal sindicato da Tunísia convocou uma greve geral para esta sexta-feira (8), em uma decisão anunciada depois que islamitas membros do governo rejeitaram, nesta quinta, a formação de um governo tecnocrata proposta pelo primeiro-ministro.

O movimento grevista marca uma escalada da crise desencadeada pelo assassinato de um opositor.

O impasse sobre a formação de um novo gabinete foi causado pela rejeição dos islamitas do partido Ennahda à proposta do primeiro-ministro -- e número dois do partido -- Hamadi Jebali.

Nesta quinta-feira, o chefe do governo não se pronunciou e a Presidência reconheceu não ter maiores informações após o anúncio da última quarta-feira a respeito da formação do novo governo.

"O presidente não recebeu pedido de demissão do primeiro-ministro, nem detalhes sobre um gabinete formado apenas por tecnocratas", disse o porta-voz da presidência, Adnene Manser.

"Qualquer mudança no poder deve acontecer dentro dos limites da legalidade representada pela Assembleia Nacional Constituinte (ANC)", lembrou Manser.

Qualquer novo governo deve ser aprovado pela Assembleia, onde o Ennahda controla 89 dos 217 assentos. Os islamistas são aliados de dois partidos de centro-esquerda, dentre eles o Congresso para a República, do presidente Moncef Marzouki.

O dia também foi marcado por novos conflitos entre algumas centenas de manifestantes e policiais em Túnis, Gafsa (centro), Siliana (nordeste) e Sfax (leste). Esses episódios de violência foram, contudo, menos graves do que os de quarta-feira, quando um policial foi morto durante confrontos que reuniram cerca de 4.000 manifestantes em Túnis.

Nesta sexta a tensão deve permanecer alta com o funeral do opositor Chokri Belaid no sul da capital e com a convocação de greve geral pela poderosa central sindical UGTT - que conta com 500.00 membros.

A última paralisação nacional aconteceu em 14 de janeiro de 2011 e durou duas horas. Ela fez parte do movimento que causou a queda do regime de Abidine Ben Ali, que fugiu para a Arábia Saudita no mesmo dia.

A greve ocorre num contexto econômico e social difícil, com a multiplicação de manifestações contra o desemprego e a miséria, regularmente reprimidas. A falta de perspectiva de grande parte da população foi o elemento crucial para a revolução de 2011, o movimento que iniciou a Primavera Árabe.

A Presidência e o Ministério do Interior pediram que os tunisianos se manifestem com calma nesta sexta-feira.

Ennahda acusado

O anúncio da criação de um novo governo foi saudado pela sociedade civil e pela oposição como um instrumento essencial para apaziguar a crise provocada pelo assassinato de Belaid.

Sinal do temor de que a situação se agrave ainda mais, a Liga Tunisiana de Direitos Humanos (LTDH) pediu, nesta quinta-feira, que as autoridades protejam as personalidades políticas ameaçadas. A central sindical anunciou que seu secretário-geral, Houcine Abbasi, havia recebido ameaças de morte anônimas por telefone durante a quinta-feira.

Frente aos riscos de instabilidade, a embaixada da França pediu que os 25.000 franceses residentes no país tenham prudência. A representação diplomática também anunciou a suspensão das aulas nas escolas francesas (mais de 7.000 alunos) nesta sexta-feira e sábado.

O Ministério do Ensino Superior da Tunísia também anunciou a suspensão das aulas nas universidades de sexta a segunda-feira.

Os advogados e magistrados entraram em greve a partir desta quinta-feira para denunciar o assassinato de Chokri Belaïd, advogado defensor dos direitos humanos. Em Túnis, as salas de audiência do principal tribunal estavam vazias.

Parte da oposição e a família de Belaid acusam o partido islamista Ennahda de ser o resposnsável pela morte, o primeiro assassinato político após a revolução de 2011. Nenhum avanço nas investigações do caso foi anunciado nesta quinta-feira.

O Ennahda refutou as acusações sob o argumento de que uma milícia pró-islamita é regularmente acusada de atacar opositores ao atual grupo político no poder.

Ao mesmo tempo, certos opositores pediram a dissolução da Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Eleita há 15 meses, a câmara não consegue redigir a Constituição por falta de um compromisso no qual dois terços dos deputados possam entrar em acordo.

A onda de violência política e social se intensificou nos últimos meses frente ao desencanto com as promessas da revolução de 2011. A Tunísia também é desestabilizada pelo rápido desenvolvimento de pequenos grupos jihadistas.

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