Empresa de Bené foi contemplada com R$ 311 milhões da União desde 2004

Thiago Ricci - Hoje em Dia
14/06/2015 às 07:29.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:28
 (Divulgação)

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A Gráfica e Editora Brasil, que pertence à família de Benedito Rodrigues Oliveira Neto, o Bené, recebeu R$ 9,5 milhões somente neste ano. Contabilizando todos os recursos pagos pela União, a empresa angariou R$ 311 milhões desde 2004. Suspeito de desviar recursos públicos para campanhas petistas, Bené é investigado pela Polícia Federal. O empresário foi preso no fim do mês passado e liberado após pagar fiança de R$ 188 mil.   Do total pago pelo governo federal até abril de 2015 à Gráfica Brasil, R$ 5,1 milhões saíram do Ministério da Saúde e os outros R$ 4,4 milhões foram quitados pelo Ministério da Educação – apenas R$ 12 mil são referentes a despesas de exercícios anteriores. Os pagamentos são relativos à produção de material gráfico, como “Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa” e livreto “Teste Rápido de Gravidez” (no caso da Saúde), e “Educação para a Cidadania no Trânsito” (Educação).   A gráfica, que já foi registrada em nome do empresário e hoje é oficialmente propriedade da família de Bené (dois irmãos e o pai), deu um salto a partir de 2006, quando o assunto é dinheiro recebido do governo federal. De R$ 490 mil entre 2004 e 2005, a empresa passou a abocanhar R$ 23 milhões em 2006. No ano passado, a soma chegou a R$ 43 milhões. Nesse período, outra empresa de Bené, a Due Promoções e Eventos (antiga Dialog) também foi contemplada com contratos milionários com a União: recebeu R$ 77 milhões em seis anos (veja infográfico).   Investigação   Os contratos firmados entre Bené e o governo federal são alvo da Operação Acrônimo, da Polícia Federal. A apuração culminou, no mês passado, na prisão de Bené. Na ocasião a casa da primeira-dama de Minas Gerais, Carolina de Oliveira, foi revistada pela polícia.   A busca na residência da esposa do governador Fernando Pimentel (PT) foi realizada porque a PF suspeitou que uma empresa dela teria servido de fachada e usada por Bené para lavar dinheiro. Carolina nega. As investigações ainda estão em curso.   Empresário irrigou o caixa de 21 partidos na última década   Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, fez doações, desde 2004, a 21 partidos. Ao todo, o empresário desembolsou R$ 1,5 milhão para comitês e candidatos de todo o Brasil, sendo que estes últimos ficaram com a maior parte –R$ 1,2 milhão (82%). Atualmente existem 32 partidos regularizados no país.   Entre os contemplados está o PSDB, principal partido de oposição ao PT, cuja ligação com Bené é investigada pela Polícia Federal. Os tucanos foram o terceiro que mais receberam doações do empresário – R$ 125 mil. Em 2010, o diretório estadual do PSDB em Tocantins recebeu cerca de R$ 91 mil. Em 2006, 2012 e 2014, tucanos daquele Estado e do Distrito Federal foram contemplados, ao todo, com R$ 34 mil.   O líder das doações é o PT, com R$ 1 milhão recebido na última década. Em seguida, aparece PSB, com R$ 236 mil. Entre os candidatos, os principais contemplados por Bené foram os atuais deputados federais José Mentor (PT-SP) e Gabriel Guimarães (PT-MG) e o hoje governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB).   Pagamentos   Durante o mesmo período, Bené recebeu de candidatos e comitês, por meio de suas empresas, R$ 41 milhões, segundo documentos de prestação de contas disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral. Um pagamento de R$ 36,2 milhões feito pela então candidata a deputado estadual Helena Ventura, do PT, está sendo investigado pelo Ministério Público Eleitoral em Minas. A contadora responsável afirmou ter errado o lançamento dos valores. Sem considerar o pagamento milionário, Bené recebeu R$ 4,8 milhões por serviços em campanhas eleitorais.   Ponto a ponto   Desde 2007, o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou diversas falhas em contratos entre empresas do Bené e o governo federal – a maioria delas com a Gráfica Brasil e a Due Promoções e Eventos. As investigações renderam mais de dez acórdãos cujo conteúdo tem alguma ligação com empreendimentos do Benedito Oliveira.   Um dos contratos reprovados pelo TCU foi feito entre Due (à época, Dialog) e o Ministério da Pesca e Aquicultura, entre 2008 e 2010. A empresa do Bené chegou a ser declarada vencedora de um pregão em que ficou na 27ª colocação, entre 33 concorrentes. Após diversas manobras, a Due venceu e disputa e receberia R$ 48 milhões para realizar eventos da Pasta, à época ainda com o nome Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca.   O TCU, no entanto, impediu que o contrato fosse cumprido, já que, além das manobras durante a licitação, identificou elementos superfaturados, como cafezinho a R$ 18 e garrafa de água de 500 ml, a R$ 20. A secretaria, então, fez aditivos de R$ 8 milhões – considerados ilegais pelo TCU – para que a Due realizasse os eventos previstos no pregão anulado pelo próprio tribunal.   O TCU apontou superfaturamento em outro contrato entre a União e a Due. Entre 2008 e 2010, o Iphan emitiu empenhos à Dialog (Due) no valor de R$ 4,7 milhões. Segundo o tribunal, foram identificados produtos superfaturados, além de acordos pagos sem a respectiva previsão em projeto básico ou proposta.   O tribunal também identificou o chamado jogo de planilhas em um contrato entre o Ministério do Turismo e a Gráfica Brasil, entre 2007 e 2008. O dano ao erário, à época, foi calculado em cerca de R$ 800 mil. Entre 26 planilhas previstas em contrato, oito estavam irregulares, com valores superfaturados. Justamente dessas planilhas irregulares que foram feitos 86% dos serviços.   Em 2010, Bené ganhou notoriedade ao pagar parte do aluguel de um imóvel onde funcionou uma equipe de campanha da então candidata Dilma Rousseff. Logo após a vitória da petista, o empresário comprou à vista, nos Estados Unidos, aeronave que seria apreendida quatro anos mais tarde pela Polícia Federal.   Em outubro de 2014, Bené e outras três pessoas foram presas no aeroporto de Brasília com R$ 113 mil em dinheiro. Entre os detidos estava Marcier Trombiere, um dos responsáveis pela campanha de Fernando Pimentel ao Governo de Minas. Desde então, a PF iniciou a Operação Acrônimo e, no mês passado, chegou a deter novamente o empresário por suspeita de desviar dinheiro público para campanhas petistas. Ele foi solto após pagar fiança.   Apesar do cenário econômico adverso, a mineira a Localiza, maior empresa nacional de gerenciamento de frotas e locação de carros, vai manter os investimentos previstos para 2015. P. 12   Além dos R$ 311 milhões recebidos pela Gráfica Brasil do governo federal, Bené abocanhou R$ 77 milhões da União através de outra empresa, a Due Promoções e Eventos

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