A alegria, o suingue e a brasilidade em destaque

Elemara Duarte - Hoje em Dia
04/01/2014 às 08:24.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:08

(Marcos Hermes - Divulgação)

Eles têm o suingue da cor e a brasilidade do som. O sambista Péricles e o ator e “soul man” Serjão Loroza, dois nomes da pesada na música, chegam ao mercado fonográfico com novos discos. O primeiro apresenta o CD/DVD “Nos Arcos da Lapa”. Já Loroza evidencia seu lado musical no dançante CD “Carpe Diem”.   Serjão localiza o conteúdo do terceiro disco que lança como um exemplar da “música preta brasileira”, fazendo referência à expressão difundida criativamente pela cantora Sandra de Sá. “Muita gente ainda acha que eu sou apenas ator. Mas foi a música que me levou à televisão, desde o Sindicato do Soul”, lembra o artista que marcou presença na série de TV “A Diarista”, com o personagem Figueirinha, e como o misterioso locutor “MC” na minissérie “Hilda Furacão”.   O fato é que o carioca já tem uma marca registrada na voz “barítono grave” que papai do céu lhe ofereceu. “É um timbre diferenciado”, admite. No disco, o vozeirão vem a serviço do balanço das pistas. “É tudo ‘up’. É pra exaltar a parada da alegria”, explica.   Presenças ilustres   Loroza indica que há algumas curiosidades nas participações para apoiar a nova proposta. “Hyldon que é um soul man, mandou um sambinha para mim. E o Arlindo Cruz, ao invés de mandar um samba, mandou uma balada soul (a sedutora “Basta a Gente se Olhar”, em parceria com Dhema)”, observa.    Há ainda composições de Arnaldo Antunes, Céu, Serginho Meriti e do próprio Loroza, nas faixas “Preta Dileta” (Pedro Luiz e Loroza) e “Podes Crer Amizade”, onde o ator e cantor Tony Tornado entra “na fita” da criação.   A admiração a Tornado vem de longe. Serjão explica que, no auge do movimento Black, ele era apenas mais um menino na famosa Madureira. “Via James Brown, Gerson King Combo e Tony Tornado dançando de uma maneira totalmente nova. Primeiro conheci a dança, depois, comecei a me envolver com o som”, justifica Loroza, que também cantou na formação do bloco carioca Monobloco – outra aventura multicultural do artista.   De Santo André para a Lapa   Quem também fez uma aventura, mas ambientada em terra estranha, é o sambista Péricles. Paulista, de Santo André, por mais de 20 anos à frente do vocal do grupo Exaltasamba, Péricles gravou seu segundo trabalho em carreira solo na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Em “Nos Arcos da Lapa”, ele relembra aqueles pagodes que mais tocaram nos 1990. Para equilibrar, ele faz reverência também ao partido-alto.    Como um paulista invade a praia dos cariocas? “Eu fui abraçado e acarinhado pelo Rio de uma forma que não esperava. Estou vivendo um momento há muito esperado, e quero que essa lua de mel dure muito tempo”, agradece.    No processo de escolha do repertório, diz ele, as músicas procuradas foram aquelas mais pontuais, cada uma em seu período na década. “Eu quis lembrar o motivo pelo qual nós, que surgimos na década de 90, passamos a existir, que foi a inspiração nestes artistas”.   Entre as faixas estão sucessos de grupos como Art Popular, Katinguelê, mas também de consagrados da “velha guarda”, como Arlindo Cruz, o grupo Fundo de Quintal e a sambista Jovelina Pérola Negra.   Péricles aposta na clássica formação do samba para DVD   Assim como Loroza, Péricles traz convidados de alto escalão para participar do DVD como Zeca Pagodinho, Dudu Nobre, Leandro Sapucahy e também Arlindo Cruz. Entre os também famosos, mas da nova geração do samba, está o músico San, líder do grupo Sambô, que solta a voz na faixa “Segura o Samba”, e a grande promessa do gênero, Mumuzinho, convidado especial na faixa “Baratinado”.    Parece que Péricles, mesmo na sua “paulistanidade”, aprendeu um pouco da lição com os bambas. As versões vem com instrumentos com a clássica formação do samba, sem muitos eletrônicos. Também pudera, no gueto boêmio da carioca Lapa, é preciso pisar com respeito, preferencialmente, falando o idioma local conforme manda o figurino.   Destaque para os pot-pourris, em clima de roda de samba, com as canções “Troca de Energia”, “Samba de Coração”, “Quem é Ela”, “Pra São Jorge” e “Minha Fé”.    Típico da boemia   Em “Nos Arcos da Lapa”, Péricles, ainda que acima do peso, aparece elegantemente trajado, com indumentária típica da boemia. Chapéu Panamá, terno claro e sapato de bico fino.    No enredo da ópera do malandro paulista, o que vale é a inclusão. “Vivemos num mundo onde cabe toda diferença. Inclusive quem não tem suas formas dentro de um padrão estabelecido”, constata.    O músico diz que se fosse convidado para alguma iniciativa voltada para o público “plus size” aceitaria tranquilamente. “É uma grande chance de falar por quem ainda não tem voz”, defende.

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