PARIS - Os desfiles de alta-costura, onde um vestido pode levar 2 mil horas de trabalho para ser feito e custar milhares de dólares, terminaram nesta quinta-feira (4) com os looks unissex do canadense de origem jordaniana Rad Hourani e a passarela do libanês Zuhair Murad, passando o bastão às impressionantes peças das marcas de "alta joalheria", que mudaram seu foco para países emergentes, como o Brasil.
Jaquetas arquitetônicas, em três dimensões, silhuetas geométricas e leggings em lã e couro, acompanhadas por botas, dominaram a passarela para o outono-inverno 2014 de Hourani, realizada nos jardins da embaixada do Canadá em Paris.
A grande estrela do desfile, todo em preto e branco, foi um casaco unissex que pode virar uma jaqueta, uma blusa, uma saia ou até mesmo uma mochila.
"Minha inspiração é o que eu gosto de vestir", disse o estilista de 31 anos, que criou sua linha em 2007 e desfilou sua primeira coleção Rad Hourani alta-costura em julho do ano passado.
"A alta-costura me fascina, porque é um verdadeiro desafio. É muito completa, tem que se pensar e medir cada detalhe, e cada ponto tem que ser perfeito, preciso, tanto por dentro como por fora", acrescentou o estilista, que nasceu na Jordânia em 1982 e cujos clientes estão principalmente na Ásia.
"O mercado asiático é maravilhoso, meus clientes são muito fiéis. Mas o mercado europeu e da América do Norte estão se abrindo cada vez mais", comemora o estilista, que diz desenhar à noite, no escuro, pouco antes de dormir.
"Meu cérebro trabalha como um computador que eu programei para funcionar a essa hora, recolhendo minhas ideias, observações, emoções", disse Hourani, que se descreveu como "alguém que gosta de definir o indefinido" e que é "contra tudo que possa separar as pessoas, seja sexo, cor, idade ou raça".
"Essa é minha mensagem e a trago através da roupa. Mas não me considero um estilista", disse o criador, acrescentando que gosta de se expressar em outros meios, como o cinema e a fotografia.
O último desfile desta temporada foi o de Zuhair Murad, que fundou sua marca em Beirute em 1997 e veste estrelas como Jennifer López, Beyoncé Knowles e Kylie Minogue, que desfilam suas criações nos tapetes vermelhos de todo o mundo.
O estilista imaginou "o sonho de uma jovem transportada para um bosque glacial", mostrando uma coleção em tons de claro e escuro, com looks em seda, renda e tule, que refletiam a lua ou os ramos de uma árvore, além de capas em plumas de avestruz.
Antes do desfile de Murad, o indonésio Didit Hediprasetyo, que recebeu vários prêmios internacionais e cujo nome é corrente entre estilistas de vários continentes, apresentou uma coleção que valoriza o corpo da mulher, com peças sofisticadas e ao mesmo tempo elegantes e sóbrias.
O desfile, à margem das passarelas oficiais, propôs vestidos em materiais suaves, com jérsei, em tons de preto, cinza metálico e azul marinho, de linhas apuradas e ao mesmo tempo com modelagens atrevidas.
Após esses desfiles, a "alta joalheria" tomou o lugar da alta-costura, com apresentações das grandes marcas, entre elas Chanel, Chaumet e Van Cleef & Arpels, instaladas na Place Vendôme.
Atingidas pela crise financeira, que provocou uma forte queda nas vendas, essas marcas mudaram seu foco há alguns anos para as novas fortunas dos países emergentes, como China, Oriente Médio e Brasil.
Esse novo público pode comprar um anel feito com esmeraldas da Colômbia, da joalheria Van Cleef & Arpels, ou o "majestoso colar multicolorido" da Dior, que levou seis meses para ser feito e está à venda por 560 mil euros.