“A Canção de Aquiles” traz romance homoafetivo entre um semideus e um mortal

Jean Piter - Hoje em Dia
02/09/2013 às 17:04.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:34

Em prosa e na visão de um personagem até então secundário, o poema épico Ilíada, atribuído a Homero, é recontado de uma forma encantadora e fascinante. Assim é possível descrever, de forma resumida, o livro http://www.pensamento-cultrix.com.br/cancaodeaquilesa,product,978-85-64850-33-0,205.aspx (tradução de Gilson César Cardoso de Souza, Jangada, 390 páginas, R$ 35,91).  O romance de estréia da norte-americana Madeline Miller vem conquistando críticos e leitores desde seu lançamento, no ano passado. Prova disso, é que o título entrou para a seleta lista dos mais vendidos do jornal The New York Times e ainda ganhou o prêmio Orange de literatura em 2012.

A epopéia, conhecida mundialmente, conta a história de povos gregos que juraram proteger a princesa de Esparta, Helena, filha de Zeus, a mulher mais bonita do mundo. Em determinado ponto, ela se apaixona pelo príncipe Paris, de Tróia, com quem foge, deixado para trás o marido Menelau. Daí então começa a guerra entre os reinos.

O grande diferencial dessa obra é que tudo é contado pela ótica de Pátroclo, amigo íntimo do guerreiro semideus Aquiles.  Pátroclo, filho do rei Menécio, foi deserdado do posto de príncipe por matar um garoto por acidente. Por conta disso, foi exilado e acolhido por Peleu, pai de Aquiles. Os dois praticamente crescem juntos, de onde surge a admiração bastante peculiar de Patróclo por Aquiles.

Essa mistura de sentimentos, descrita de forma leve pela autora, deixa claro que a admiração de Pátroclo se converteu em uma intensa paixão ao longo dos anos de convivência com Aquiles.  O narrador descreve de forma deslumbrada cada detalhe do corpo, do comportamento e da personalidade de seu objeto de desejo.

No fim da adolescência, a paixão de Pátroclo é correspondida, em um namoro secreto. E essa luta para ficar ao lado de quem se ama acaba se tornando maior que guerra de 10 anos entre os reinados, graças à forma envolvente em que foi escrita. Texto leve, de fácil compreensão e bastante cativante, que justifica os elogios recebidos até então. Em terras brasileiras, o livro certamente irá agradar a gaúchos e baianos.

Inspiração e preparação

Não seria exagero dizer que Madeline Miller se preparou a vida inteira para escrever “A Canção de Aquiles”.  Ela é professora de latim e grego e atuou no departamento de dramaturgia da Yale School of Drama, onde fazia adaptações dos textos clássicos para a linguagem atual.

Com formação literária e vivência nesse universo, a escritora fez um amplo trabalho de pesquisa para concluir seu primeiro livro. Foram dez anos dedicados ao aprofundamento no mundo da mitologia grega.

As habilidades de lecionar, pesquisar e adaptar deram a Madeline os ingredientes necessários para escrever uma obra envolvente, em linguagem simples e convidativa, com o mesmo encanto dos textos clássicos.

Confira o book trailer:

Por que Patróclo?

Qualquer um que tenha “A Canção de Aquiles” em mãos vai se perguntar por quê Pátroclo é o personagem principal e não o semideus que dá nome ao livro. A escolha vem da experiência vivida pela autora ao ler o texto original.

“Eu sempre me vi tomada por aquele momento terrível na Ilíada quando Pátroclo é morto e Aquiles é oprimido pela tristeza e raiva. Até aquele instante, Aquiles parecia se preocupar apenas consigo mesmo e com sua reputação. Mas, no momento em que perde o companheiro, ele é consumido pelo desespero do amor perdido, de uma maneira que é absolutamente humana e solidária. Foi incrivelmente emocionante para mim, e também misteriosa, pois Pátroclo é realmente um personagem muito menor. Eu queria descobrir o mistério: quem é esse homem, e por que ele significa tanto para Aquiles?” explica a autora.
 
Próximos passos

Todo escritor espera ser bem sucedido com sua obra, é claro. Mas, conseguir tanto sucesso com um romance de estréia é impensado até para os mais otimistas. “Fiquei surpresa e absolutamente encantada com a repercussão do meu livro. Não tinha tanta expectativa. Eu sabia que seria difícil encontrar leitores. Foi realmente emocionante saber que essa história de que tem sido uma parte da minha vida por tanto tempo também ressoou com os outros”, relata Madeline.
 
Os bons frutos colhidos com “A Canção de Aquiles” deram mais ânimo para a escritora investir em um novo trabalho, também inspirado na mitologia grega. “Meu segundo romance, que está em andamento, é inspirado na Odisséia. Quero escrever sobre as aventuras de Ulisses, um dos meus personagens favoritos. E também quero falar sobre Penélope, que sempre gostei muito”.

Quem sabe?

A história de Aquiles já foi contada no cinema em "Tróia" (2004), do diretor Wolfgang Petersen, com o ator Brad Pitt no papel principal. Madeline diz que viu o filme, que gostou muito, e que sonha em ver, um dia, seu livro adaptado para a sétima arte.  “Seria divertido acompanhar essa transformação e ver quais atores seriam escolhidos para interpretar cada um dos personagens”.

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