A compreensão do ser humano é a meta

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
25/10/2014 às 11:07.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:46
 (Divulgação)

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SÃO PAULO – “Eu não tenho muito o que dizer, a não ser obrigado”, responde, entre risos, o chinês Jia Zhangke, quando indagado sobre como se reflete, em seu dia a dia, o fato de ser considerado o mais importante cineasta da atualidade.

“Não fico muito preocupado com a opinião dos outros porque, na produção, o mais importante é encarar a mim mesmo. Cada filme é um desafio. Para cada um deles você tem que apresentar um novo eu”, registra, em entrevista ao Hoje em Dia.

Autor de filmes premiados como “Em Busca da Vida” e “Um Toque de Pecado”, Zhangke é tema de documentário dirigido por Walter Salles (“Jia Zhangke, um Homem de Feyang”), em exibição na 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

O que certamente atraiu o realizador de “Central do Brasil” em sua obra é a maneira como retrata as aceleradas mudanças econômicas e sociais na China a partir dos lugares, que parecem guardar as memórias de uma outra época.

“Comecei a perceber a beleza do cinema como espectador. A experiência que tive ao ver os filmes de (Vittorio) De Sica é perceber como um espaço familiar estimula a criatividade dele. Aprendi que podemos descobrir coisas a partir de um imagem ou fato”, analisa.

Espaços públicos

Zhangke salienta que espaços públicos como ônibus, metrô e bilhares carregam as marcas do cotidiano das pessoas, elementos que oferecem subsídios para a compreensão do ser humano. Para não parecer abstrato, cita os bastidores do filme “Prazeres Desconhecidos”. “Descobri um terminal de ônibus onde havia uma casa de dança. Encontrei, nessa junção, algo que explica a nossa vida. Ou seja, em qualquer ambiente o ser humano busca a felicidade”, diz o diretor, para quem a melhor forma de conhecer uma cidade é usar o transporte público.

“Quando estive aqui (em São Paulo), em 2007, fiz um passeio pelo centro e parei em frente a um posto de gasolina onde crianças faziam malabarismos. Uma cena extremamente comovente, porque, fora eu, ninguém mais olhava. Eles faziam aquilo para eles mesmos”, destaca. O cineasta de 44 anos não concorda quando afirmam que faz filmes sobre marginalizados. “Não importa se você é operário ou patrão. Uma característica comum a todos os personagem é não ser detentor do poder. Essa é a melhor definição do que estou focando”, explica.

Para Zhangke, a economia chinesa é uma cópia simplificada e acelerada do capitalismo ocidental. “Temos um mercado excessivamente aberto junto a uma política muito conservadora. O gerador de problemas vem dessa junção, resultando numa economia de mercado bastante estranha”.

Sobre Walter Salles, o diretor cria uma metáfora sobre duas pessoas em estradas diferentes. “O Walter fica girando mais na América do Sul. E eu, na China. Só que nunca imaginei que esses caminhos um dia iriam se cruzar”.

O que mais agradou o diretor no documentário foi a oportunidade de levar Salles à sua cidade natal, em Feyang, mostrar para a câmera as pessoas fundamentais em sua trajetória. “Ele buscou compreender quem eu sou, deixando o meu cinema em segundo plano”.

(*) O repórter viajou a convite da organização da Mostra de São Paulo

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