'A Grande Muralha' peca ao usar clichês para definir ocidentais e orientais

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
22/02/2017 às 11:15.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:40

Com longas como “Herói”, “O Clã das Adagas Voadoras” e “A Maldição da Flor Dourada”, o diretor Zhang Yimou ajudou a criar um padrão em relação aos filmes de artes marciais made in China. Mais sofisticados, passaram a exibir um extremo cuidado com a fotografia, a direção de arte e as cenas de lutas, sustentadas por três grandes pilares: harmonia, conjunto e tradição.

Os roteiros se debruçam sobre lendas chinesas que tematizam a importância da honra, da lealdade e dos bons valores. Esses elementos estão presentes em “A Grande Muralha”, uma das principais estreias de amanhã nos cinemas. A diferença é que o roteiro não está preocupado em elaborar essas questões a partir de personagens que se machucam mais por dentro do que em suas batalhas.

E basta olhar para os créditos para entender a razão: com Matt Damon, Pedro Pascal e William Dafoe no elenco, o filme se atém mais ao simples confronto cultural, quando dois mercenários ocidentais chegam à Grande Muralha em busca de pólvora e acabam envolvidos numa batalha típica de “O Senhor dos Anéis”, entre guardiões da Terra e seres de outra dimensão.

Disciplina x improviso
O pé na fantasia mais explícita não chega a ser um problema, embora não esteja bem inserida no filme. O que mais incomoda é essa ideia repetitiva de enaltecimento de alguns estereótipos, como os ocidentais de língua inglesa livres, sempre irônicos e bons na arte de improvisar em meio à dificuldade. Já os orientais são disciplinados e leais, mas desconfiados e fechados a outras etnias.

A partir disso vemos o amor brotar entre culturas diferentes, além do aprendizado mútuo e da compreensão sobre o “diferente”. Tudo embalado, porém, de maneira superficial, apostando mais no humor e na ação. O filme até funciona como fantasia aventuresca, mas esbarra no roteiro esquemático, assinado, entre outros, por Tony Gilroy, da trilogia Bourne e de “Rogue One”.

Resulta num arremedo do drama de guerra “O Último Samurai” (2003), que também tem um americano (Tom Cruise) ajudando os samurais japoneses na manutenção de suas tradições. Curiosamente esse filme foi dirigido por Edward Zwick, que seria a primeira escolha para conduzir “A Grande Muralha”, optando por trabalhar apenas na produção.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por