'A Mula' comprova curva ascendente de Eastwood em direção a temáticas humanistas

Paulo Henrique Silva
13/02/2019 às 18:47.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:32

(WARNER/DIVULGAÇÃO)

Principal estreia desta quinta (14) nos cinemas, “A Mula” representa uma espécie de síntese da obra de Clint Eastwood, a partir de personagens durões que trazem uma visão peculiar, às vezes ortodoxa e conservadora, sobre o mundo que os cercam. Além de exibir uma curva ascendente em direção a filmes mais humanistas na trajetória deste realizador de 88 anos.

Há muitos paralelos a serem feitos, por exemplo, entre Earl Stone, o ex-cultivador de lírios que passa a fazer transporte de drogas para um cartel, protagonista de “A Mula”, com o trabalho anterior de Eastwood como ator, em “Curvas da Vida” (2012), em que interpreta Gus, um olheiro de time de beisebol prestes a ser compulsoriamente aposentado.

A luta para viver passa, em ambos, pela necessidade de mostrar que são úteis. Mais do que isso, há neles um combate permanente para não perderem contato com o que mais amavam, representantes de uma condução, se assim podemos dizer, mais artesanal e pessoal, hoje atropelada pela tecnologia e pelo imediatismo de resultados.

A maneira divertida como os filmes percebem essas diferenças, com diálogos deliciosos, se contrapõe à violência como são substituídos, a começar pela própria constituição familiar. Em “Curvas da Vida”, a relação se dá com a filha que mal vê e que lhe cobra um comportamento “digno” à idade. Em “A Mula”, Stone é acusado de dar mais valor ao trabalho do que à família.

Em essência, estes personagens estão lutando para fugirem ao papel que lhe imputam de acordo com os anos de vida. Essa discussão se torna o próprio motor narrativo de “A Mula”, quando o personagem vira o principal transportador de drogas, não porque passa desapercebido pelos policiais, mas sim pela maneira peculiar de ver as situações que surgem.

Suas ações são inesperadas, longe da previsibilidade que muitas daquelas pessoas que o contrataram, bem mais jovens, transformaram as suas vidas. É o que nos cativa em Stone, ao não se deixar sucumbir, embora não seja um ideal de caráter – outro ponto desenvolvido pelo roteiro é a aceitação dele de que virou as costas para a família.

O florista é um veterano de guerra, guardando com ele um olhar conservador, não faltando palavras desabonadoras a negros, lésbicas e mexicanos. De alguma forma, assim como outros personagens de Eastwood, Stone representa o americano em seu âmago, ideia que se confirma ao o vermos transitar por todo o país, como se fosse porta-voz daqueles lugares.

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