A paixão pelo futebol na ótica de um dublê de torcedor e jornalista

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
16/02/2014 às 08:50.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:03
 (Divulgação)

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Não há justiça no futebol – sentencia Nelson Motta nas derradeiras linhas de “Resenha Esportiva – Dramas, Comédias e Tragédias de Sete Copas do Mundo”, livro recém-lançado pela editora Saraiva. O compositor não está se referindo aos desalentadores bastidores do esporte. E sim à falta de lógica e moral que evidencia a sua “natureza imprevisível, que desafia estatísticas, raciocínios e o senso comum”.   Para Motta, o futebol “é uma metáfora da guerra, uma luta tática por espaço no campo de batalha para invadir, com a bola, a cidadela adversária”. É o que nos encanta e nos apaixona. Simples assim. Distante da frieza dos números e das análises computadorizadas que tentam “enquadrar” o futebol, o escritor nos escancara o sentimento de irracional ufanismo (“Poucas vezes o ser humano pode ser tão constrangedoramente ridículo”, avisa”).   PRETEXTOS   Na cobertura de sete Copas do Mundo, Motta se desdobra em três personagens: o torcedor brasileiro; o jornalista e torcedor brasileiro; e o jornalista e torcedor brasileiro em terras estrangeiras. “A verdade é que viemos aqui para torcer e nossos textos são pretextos, apenas um preço que se paga pelo privilégio do testemunho”, escreve, a poucas horas da derrota do Brasil para a França, em 1986.   Motta envolve, no encontro com seus pares em Guadalajara, Sevilha, Turim ou Paris, o olhar curioso para costumes tão diferentes da nossa cordialidade e a tentativa de corrompê-los com “jeitinho”.   MERCADO NEGRO   Em terras espanholas, há o DJ que distribui camisas da Seleção para conseguir carona. Também em 1982, jornalista faz comércio no “mercado negro”, transformando seu quarto um dos pontos mais procurados por brasileiros.   Sobre as cidades que visita para acompanhara Seleção, parece estar sempre em busca de algo próximo do Brasil: “techno-eco-jeca” é como define San José, nos EUA. E Turim vira uma “cidade enjoada”.   Com seu estilo bem-humorado, relata os casos de acintosa retranca das mulheres, especialmente das mexicanas e das italianas. Essas “fazem jogo duro, dividem as bolas, marcam pressão, não levam bolas nas costas”.   AFETUOSIDADE   As guadalajareñas, por sua vez, são “muito simpáticas, mas querem só platicar (conversar), e o pessoal quer ‘praticar’”. Nos EUA, ouve de uma feminista que as comemorações do Brasil são muito excitantes para um público que não está acostumado a esse tipo de “afetuosidade brutal”.   O escritor busca justamente o entorno das partidas, refletindo o que acontece em campo em divertidos personagens e constatações que nos levam a crer que a bola gira em sintonia com os anseios sociais e políticos. No fechar das cortinas da ditadura, a esquadra brasileira vira sinônimo de um futebol brilhante e livre. Havia no ar um inequívoco sentimento de “já ganhou”, frustrado pela Itália na semifinal.   LIXO NACIONAL   “Não era possível, mas era: nem mesmo a imaginação torpe de um cérebro doentio ousaria tanto”, descreve o compositor de “Dancin’Days” e “Como uma Onda”, lamentando os três gols do carrasco Paolo Rossi. Na Copa do México, em 1986, compara os cartolas brasileiros, presentes em grande número, à escória do país. “Mas o castigo anda a cavalo: todos têm sido obrigados a assistir aos jogos da Seleção Brasileira”. Quando veio o tetracampeonato, em 1994, constata a mudança do “jogo bonito” para o futebol de “suor e sacrifício”, lamentando que “o futebol competitivo deixou de ser tão alegre e divertido para tornar-se mais duro, exigente e eficiente. Como o mundo”.

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