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O desabamento do Pavilhão de Exposições da Gameleira, em fevereiro de 1971, e o Brasil do “milagre econômico” e dos “anos de chumbo”, onda de maior repressão política, principalmente à luta armada, estão ligados. Essa conexão é feita pelo romance “À Sombra da Gameleira – Amores, Aparelhos, Escombros e Porões” (300 páginas, R$ 54), que o jornalista Roberto Amaral lança nesta terça-feira (20), 19 horas, no Terraço Leitura, no Pátio Savassi.
O livro parte de um fato concreto – a queda do Pavilhão da Gameleira, ocorrida no dia 4 de fevereiro daquele ano, em Belo Horizonte, tido como maior da construção civil do país – para desembocar no terreno livre e rico da ficção. Para isso, o autor cria o personagem “Beto”, que perde o pai, engenheiro, no acidente, e que, por alguns caprichos da vida, abraça a causa da luta armada. “Ele (romance) começa em 1971 e termina no réveillon daquele ano, muito intenso, política, cultural e sociologicamente. Mas com um viés psicológico”, ressalta o autor, que dedica a obra ao guerrilheiro Stuart Angel Jones, torturado e morto pela ditadura, e filho da estilista mineira Zuzu Angel, outra vítima do regime.
Assim, nas 297 páginas do romance, da Editora D’Plácido, Amaral mistura as angústias, paixões e tristezas dos personagens, entremeadas às figuras de Carlos Marighella ou de Dan Mitrione (agente da CIA que ensinava métodos de torturas aos policiais brasileiros).
E até ao clima tenso e policialesco da época. “Um folheto era distribuído nos prédios. Neles, eram pedidas informações sobre pessoas que tinham mudado para lá recentemente, incitando-as até a procurar saber de onde vieram, além de atenção à rotina. E se houvesse alguma situação estranha deveriam avisar à polícia”, destaca.
A lápis
Para o jornalista e escritor, o acidente “mexeu” brutalmente com a cidade. “E com as pessoas, que se envolveram e ficaram assustadas. Foi um dos mais trágicos da construção civil do país”, rememora, lembrando que não se há um número exato de quantas pessoas ficaram soterradas, “pois, naquela época, o apontamento era feito a lápis”. E prossegue: “Fala-se que morreram 60, não computados os mutilados e também os problemas psicológicos que afetaram muitos. Era o auge do governo do Médici, do milagre econômico e, na obra, os devidos cuidados não foram tomados”.
Roberto Amaral – O livro “À Sombra da Gameleira” será lançado nesta terça-feira (20), a partir das 19 horas, no Espaço Cultural Terraço Leitura (Pátio Savassi, av. do Contorno, 6.061, 3º piso).