Animação italiana é um dos destaques do Festival Varilux de Cinema

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 01/12/2020 às 07:39.Atualizado em 27/10/2021 às 05:11.
 (BONFILM/DIVULGAÇÃO)
(BONFILM/DIVULGAÇÃO)

Apaixonado pelas narrativas e pelo desenho de Dino Buzzati, o premiado ilustrador italiano Lorenzo Mattotti achou estranho que “A Famosa Invasão dos Ursos na Sicília” ainda não tivesse recebido nenhuma adaptação para o cinema. O livro infantil, publicado em 1945, foi celebrado por suas metáforas sobre o autoritarismo e a corrupção do poder.

“Buzzati foi muito importante para mim.  Ele me influenciou muito na maneira como contar uma história. Eu sempre pensei que este livro poderia virar uma animação muito potente”, registra Mattotti, em entrevista ao Hoje em Dia, da Itália, por ocasião da exibição de “A Famosa Invasão...” no Festival Varilux de Cinema Francês, em cartaz em BH.

Após ganhar vários prêmios importantes como quadrinista e ilustrador, Mattotti quis estrear em animação justamente com a adaptação do livro de Buzzati. “Descobri que Walt Disney já tinha pedido, nos anos 50, assim como tantos outros realizadores. Todos  eles recusados por Buzzati”, destaca. O próprio Mattotti ganhou um “não” na primeira tentativa.

“Após cinco anos da recusa, encontrei com a senhora Buzzati e tive a oportunidade de falar de minha admiração por ele, além de mostrar os meus desenhos. Ela se convenceu de que eu poderia fazer uma coisa bonita. Mas tinha medo de que pudesse trair a ideia original.  Mostrei o storyboard e ela passou a sempre me deu o seu aval”, recorda Mattotti.

O diretor buscou respeitar todas as ideais gráficas do livro original, aproximando-se à atmosfera criada por Buzzati, mas que, como ele mesmo frisa, também absorvesse uma estética própria ligada à cultura italiana. “Contribuí desta forma, incluindo minhas raízes, as minhas cores, o sol do Mediterrâneo”, observa.

Mattotti gosta das cores quentes, que estariam mais relacionadas à fábula e à positividade. “Odeio as cores dos últimos filmes da Disney. Eles usam cores horríveis, muito modernas e técnicas, como um violeta mais ácido, um azul mais ácido. São cores doentias, mórbidas.  Acho importante provocar prazer e energia pelas cores”, justifica.

O realizador, que foi indicado ao César (o Oscar do cinema francês) de melhor animação pelo filme, assinala que a metáfora política é apenas um dos vários assuntos que permeiam a história. “Há também uma grande metáfora da relação entre a Natureza e o homem. Os ursos são a Natureza. Eles entram em contato com o homem, o que faz com que se modifiquem e percam as suas raízes, absorvendo vícios”.

A animação aborda ainda de relação pai e filho e o prazer de transmitir as tradições. “São diversos assuntos, mas que não  se resolvem. O filme só expõe. É importante que as crianças  possam refletir sobre as questões e perceber que a realidade é complicada. Não dá para resolver só com uma palavra, mas analisando e levando em conta todos os aspectos”, afirma.

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