TEATRO

Aos 80 anos, Susana Vieira apresenta a peça 'Uma Shirley Qualquer' no Sesc Palladium

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
22/10/2022 às 07:06.
Atualizado em 22/10/2022 às 10:18

A montagem tem versão brasileira de Miguel Falabella para o clássico ‘Shirley Valentine’, de Willy Russel, e direção de Tadeu Aguiar (Edgard Jordão/Divulgação)

Susana Vieira avisa que usará o alto-falante do celular. “Meu ouvido esquerdo ficou tapado, mas não por causa da velhice, não, porque aí seriam os dois, né?”, explica a atriz de 80 anos, que, depois que pegou Covid, ficou “sem taste (gosto), olfato e respiração”. O humor, por sua vez, continua intacto, e é uma das forças motrizes da peça “Uma Shirley Qualquer”, em cartaz sábado e domingo no Sesc Palladium.

O espetáculo é a versão brasileira para um dos grandes sucessos dos palcos londrinos da década de 1980, “Shirley Valentine”, que virou filme e rendeu vários prêmios a atriz Pauline Collins. A adaptação foi feita por Miguel Falabella, a quem Susana deve muito o seu tempero cômico. “Sou amiga dele há 30 anos e peguei muita coisa do timing do Miguel para a comédia. Ele dá nó em pingo d’água e as coisas não ficam tão dramáticas nas mãos dele”, registra.

Depois de acompanhar bem de perto o “tempo de comédia precioso” de Nathália Timberg, quando trabalhou com ela na peça “A Partilha”, Susana se sente hoje “realmente uma muito boa comediante”, aprendendo “os silêncios e o tempo que tem que dar à frase final para a pessoa rir”. De vez em quando, admite, quebra a cara, porque há outra variante muito importante a ser levada em consideração: a plateia.

Recentemente, ela assistiu à gravação de uma apresentação antiga, ação que serve como um ensaio quando fica muito tempo sem fazer a peça, e quase caiu para trás ao perceber a dificuldade para o público dar risadas. “Menino, nesse dia, até a 15ª piada, ninguém se levantou para dar uma risadinha. Era um silêncio! Eu não sei onde foi e quero até saber porque não quero mais voltar nesse lugar”, avisa Susana.

Não raro, ela vê uma reação inversa, de choro. “Aquela personagem é emocionante. É como a gente que casou virgem, com 18, 19 anos, teve filho, foi infeliz no casamento e depois conseguiu se livrar. Mas quantas não se livraram? Quantas ficaram ali a vida inteira? Casei virgem, porque não podia ficar dando por aí na época. Casei, nem me lembro qual década mais que foi – mas faz muitas décadas, porque tenho um filho de 50 anos –, e gastei oito anos até abrir a porta e ir embora”, destaca.

“Uma Shirley Qualquer” passou por Portugal recentemente com grande sucesso. Com medo de encontrar um público mais conservador, Susana fez vários cortes no texto, tirando principalmente os palavrões. “Fala-se muito em sexo também, sobre a descoberta do clitóris pela geração da década de 70. Cortei, porque é uma palavra pesada, não usual. Ninguém fala na mesa de jantar que ‘meu clitóris está doendo’, entendeu?”, explica.

As mudanças funcionaram perfeitamente, sendo aplaudida desde o primeiro minuto. “Eles têm esse hábito chiquérrimo. Me senti a Tônia Carrero e a Maria Della Costa, atrizes das antigas que entravam em cena e o público já batia palma. É uma coisa muito europeia. A gente tem síndrome de cachorro magro, querendo agradar todo mundo e sair correndo de vergonha. Quando começaram a bater palma, não sabia o que fazer. Se era a Susana Vieira, se agradecia, se dava tchau e começava um papo ali”.

SERVIÇO

"Uma Shirley Qualquer" - Sábado, às 20h30, e domiingo, às 9h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046). Ingressos: R$ 75 (R$ 37,50, a meia). 

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