Artista da capital mineira assume teatro de bairro em Berlim

Cinthya Oliveira* - Hoje em Dia
06/06/2013 às 08:10.
Atualizado em 20/11/2021 às 18:53

BERLIM – Após a Segunda Guerra Mundial e, principalmente, depois da Reunificação em 1990, a Alemanha se tornou um país aberto a imigrantes. Primeiro chegaram milhares de turcos e, na sequência, como esperado, vieram pessoas de todas nacionalidades possíveis, em especial originários dos países vizinhos do Leste Europeu.

Mesmo assim, a arte demorou a absorver toda a diversidade étnica, cultural e linguística dessa nova realidade. Na grande maioria dos teatros alemães, aos descendentes de imigrantes eram renegados os papéis secundários e outros idiomas bastante falados nas grandes cidades (como turco, árabe e espanhol) eram simplesmente ignorados. Ou quase.

Essa realidade estética passou a ser transformada em 2008, quando a artista turca-alemã Shermin Langhoff assumiu o teatro Ballhaus Naunynstrasse, no bairro de Kreuzberg – reduto dos turcos e dos intelectuais em Berlim.

Foi a partir desse momento que o espaço cultural passou a se dedicar integralmente ao trabalho feito por artistas descendentes de outras nacionalidades ou à abordagem da pós-imigração na capital alemã.

Conquistas

Convidada a assumir a direção do bem-conceituado Wiener Festspiele, em Viena, Langhoff convidou um belo-horizontino para dar continuidade a seu trabalho no pequeno teatro.

Wagner Carvalho, 47 anos, vive na capital Berlim desde 1992 e conquistou um espaço importante no cenário berlinense graças a seu trabalho como ator, bailarino, professor de teatro e curador/produtor do festival bienal "Brasil Move Berlim", que leva bailarinos e grupos de dança brasileiros à maior metrópole alemã.

"Enfocamos nosso trabalho em questionamentos de pessoas que nasceram e vivem aqui na Alemanha, mas são tratados como imigrantes por sua ascendência. Temos como base experiências feitas na Inglaterra por descendentes de imigrantes da Índia e do Paquistão", explica Wagner Carvalho, lembrando que um quarto da população berlinense não tem origem germânica.

Comunidade

Segundo Wagner Carvalho, esse trabalho do Ballhaus é como "abrir uma avenida em uma floresta de pedras". Pela primeira vez, artistas que não tinham espaço nos palcos puderam falar de si mesmos e conquistarem lugares de sujeitos da história. A grande maioria das peças ali produzidas são em língua alemã, mas, vale ressaltar, há espaço sim, para outros idiomas. Em cartaz em maio passado, o espetáculo "Telemachos – Should I Stay or Should I Go?", teatro-documentário de Anestis Azas, por exemplo, traz diálogos em grego e inglês.

"O teatro é distrital, deve atender às demandas do bairro. Mas com essa nossa proposta acabamos atendendo a uma comunidade internacional", diz Carvalho, que assumiu a direção do teatro em parceria com o amigo turco Tunçay Kulaoglu.

Trabalho gratuito com jovens é destaque

Por ano, o teatro realiza cerca de dez estreias próprias de teatro, dança e instalação audiovisual. O Ballhaus Naunynstrasse também trabalha com adolescentes do bairro de forma totalmente gratuita.

São os próprios jovens que desenvolvem um espetáculo e trabalham as temáticas discutidas nas aulas.

O espetáculo híbrido entre teatro e vídeo "Urban Sounds", criado por adolescentes, foi tão bem recebido pelo público que entrou para o repertório fixo do espaço.

Além de turcos e europeus do leste, os brasileiros também estão representados na programação do teatro.

Em abril, esteve em cartaz o espetáculo de dança "Sight", criado pelo Grupo Oito, liderado pelo belo-horizontino Ricardo de Paula (ex-bailarino dos grupos Corpo e Zikzira).

A fonte de inspiração para essa criação foi o documentário Estamira", do diretor Marcos Prado.


*A repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

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