Atriz Thaís Garayp retorna a Belo Horizonte e às novelas

Miguel Anunciação - Hoje em Dia
28/05/2013 às 11:46.
Atualizado em 20/11/2021 às 18:37

(Samuel Costa )

É com o coração cortado que Thaís Garayp se despede das suas raízes. "Nasci e fui criada no centro da cidade, brincando de corda e de queimado, descendo ladeiras em carrinho de rolimã, com meu irmão, pela Rua Tupinambás. Mas o Centro está inviável: poluído, sujo, descuidado demais. Está podre e inseguro. A revitalização tão falada é mentira, à noite você não vê um guarda sequer. A cidade cresceu muito, é verdade, mas o desenvolvimento custou muito alto a todos nós, moradores", desabafa a atriz e cantora, enquanto se instala na região do Carmo/Savassi.

Destaque de várias montagens locais inesquecíveis ("Mulheres de Holanda", "A Bolsa Amarela", "O Homem que Sabia Português") e absorvida pela TV há uma década, Thaís está na tela, de novo: em "Sangue Bom" interpreta Santa, viúva, dona de casa, interiorana que muda para a cidade grande e se torna melhor amiga e conselheira da personagem de Letícia Sabatella. "Já pensei até em ter um programa chamado 'Os Conselhos da Santa'", conta e solta o riso.

Atuando numa novela após a outra (oito, no total, e participações em duas minisséries e no "Programa do Didi", que a Wikipedia não registra), atribui sorte aos papéis que obteve. Desde o primeiro, uma ponta em "Da Cor do Pecado" (como passageira do ônibus onde nascia o bebê da personagem de Taís Araújo), minúscula, mas que "todo mundo" teria visto e gostado.

"Era uma novela singular, a primeira em que uma negra era protagonista", frisa, ela que é descendente de sírio criado no Líbano – seu avô, já falecido, era comerciante estabelecido na cidade de Aimorés.

Talvez essa árvore de parentescos explique seu bom humor, ser tão à vontade, falar tão sem reservas. Também, ela nem teria porque não estar feliz. Embora o mercado imobiliário carioca esteja inviável, inacessível a quem pretende adquirir sequer um metro quadrado, o lado bom é que desde o fim de 2012 ela voltou a viver em Belo Horizonte.

Embora nem tudo tenha rolado só às mil maravilhas no Rio, além dos trabalhos na TV, das boas relações profissionais e amistosas que travou, Thaís atuou ainda em duas peças, "Açaí & Dedos" e "O Caso Valkíria R". Ambas foram exibidas aqui, mas só a primeira segue em repertório.

Curiosamente, ela não teria sido mais convocada pelas agências de publicidade, locais e de fora. Antes, convites não faltavam: "Acho que é por eu ter ‘acontecido’ já madura e os jovens – como Grazi Massafera, Marcelo Adnet, Gregório Duvivier – terem bem mais chances de ser relacionados a produtos. A imagem que imprimo não se presta a qualquer xampu", ironiza.

Foi-se o tempo em que ficava magoada por imprimir o tipo dona de casa ou empregada

Thaís recorda ter ficado muito magoada ao ouvir o ator Bemvindo Sequeira dizer que todo ator estaria destinado a imprimir uma imagem, a interpretar só determinados papeis. Hoje, já não lhe soaria mais ofensivo parecer destinada às mãezonas, às donas de casa, donas de puteiro e às empregadas.

"No teatro você pode tudo, fazer personagens de qualquer idade, mas a TV precisa de 90% de caras bonitas – elas seguram a atenção do espectador _ e 10% de carismáticos, os que não são bonitos, mas têm talento e algo inexplicável, que seguram também", explica Thaís, aberta à publicidade (a TV majorou sua remuneração, pero no mucho), desde que os cachês não sejam motivo de embaraços. "Em Minas, os atores ainda são pagos de modo vergonhoso, indigente, a gente precisa lutar por melhorias", reivindica.

E como as gravações da novela lhe cobram só um dia por semana, ela planeja estar em cena de novo, no teatro. Cantando, de preferência, desaguando um pouco dos 14 anos de vivências no Ars Nova. O diploma em engenharia na UFMG permanecerá na gaveta: até onde ela alcança, continuará fiel à frase especialmente guardada para quando for convocada a uma entrevista como celebridade: "Antes eu construía prédios, hoje construo personagens e sonhos", brinca.

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