(Divulgação)
Casas ou outro tipo de habitação se tornam personagens importantes num filme geralmente quando o gênero em questão é o terror. Há comédias despretensiosas também (“Um Dia a Casa Cai”, “Duplex”). Mas num trabalho de cunho político como “Avanti Popolo”, que estreia hoje nos cinemas, é extremamente raro.
A casa decrépita de uma rua de periferia de São Paulo representa o comunismo nos dias de hoje, como um local vazio, fantasmagórico e que vive de seu passado. É para lá que o protagonista André se dirige, voltando de um lugar que não sabemos direito qual é. Seria do capitalismo? O retorno à casa do pai seria a tentativa de se encontrar uma saída?
O longa do diretor Michael Wahrmann é recheado dessa simbologia, a começar pelo ponto de vista que dá partida ao filme: a câmera assume o banco do motorista de um carro, que percorre várias ruas aparentemente sem conseguir chegar ao seu destino. No rádio, um locutor de língua espanhola parece evocar uma espécie de integração latino-americana.
O veículo para quando é obstruído por um transeunte, justamente André, que, fustigado pelo som da buzina, demonstra que irá jogar sua mala em cima do carro. A ação se interrompe. É desses abortos que o filme trata. “Avanti Popolo”, traduzido do italiano, significa “Povo à frente”, e foi título de um conhecido hino socialista. Em outro momento, quando o locutor tenta executar a música, o disco está arranhado e resolve ele mesmo cantá-la, demonstrando uma atitude isolada, persistente e, pelo tom de sua voz, angustiada. Sentimento dolorido que contagia todo o filme. O que André procura na casa do pai é vida, mas encontra apenas tristes lembranças.
Não sabemos se o pai (vivido pelo falecido diretor Carlos Reichenbach) é uma projeção tal como os rolos de filmes que André acha na casa e que exibem imagens do irmão que foi para a ex-União Soviética e não voltou mais. A cor esmaecida da fotografia completa esse quadro desalentador de um mundo sem utopias, tão carente de sentidos quanto o protagonista.