Baiano, Cajat se lança no mercado com CD autoral

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
Publicado em 17/08/2015 às 07:49.Atualizado em 17/11/2021 às 01:22.
Novidade na indústria fonográfica made in Bahia. Com apenas 26 anos, mas já contabilizando 12 de dedicação (entre diletante e profissional) à música, Cajat cresceu embalado pelos sons que conterrâneos como Caetano e Gil, ou mesmo João Só (nascido no Piauí, mas que cresceu em Salvador), fizeram ecoar pelo mundo. “Música sempre foi algo presente na minha casa. Me lembro de minha mãe sempre cantando, fosse acompanhando discos ou com meus tios, tocando violão”, lembra o moço, que acaba de lançar “Noite Fria”, seu primeiro álbum, totalmente autoral.
 
Verdade seja dita: na adolescência, à MPB Cajat juntou as referências do rock e do pop rock, o que, lembra, fez aflorar seu gosto “pelas opções marginais”. “Surgiu um pouco da admiração pelo que está ‘fora da linha’”. Mas, bem, ele registra, ainda, um momento pelo qual, hoje, só se lembra pelo filtro do humor. “Sabe aquela febre de karaokê? Bem, minha família aderiu, com aqueles timbres breguíssimos”. Mas, do limão, a limonada. “Foi legal, acabou ampliando meu repertório”.
 
“Noite Fria”, o disco em questão, é fruto de um longo processo. “Tinha feito terapia e rolou um período de escassez criativa”.
 
ATOS
 
Na verdade, Cajat estava acostumado a sublimar suas questões – “decepções, angústia, raiva, felicidade, euforia; tudo” – em expressão criativa e, geralmente, musical.
 
“No momento em que passei a falar disso (no divã), não sobrava material para criar. O lado artístico nunca está separado de nós mesmos. Mas, como seria natural, em outro momento voltei a compor de maneira espontânea”. E percebeu que não eram simplesmente canções soltas, como em outros momentos. “Reconheci que o caráter de unidade se preservava, mas que eram, ao mesmo tempo, músicas complementares, ou seja, ali existia a possibilidade de uma obra”.
 
Foi natural, pois, dividir o disco em atos. “Existiam basicamente três tipos de imagem expressadas no disco: um lado dark (mais denso), um dançante e mais pop e ainda um mais reflexivo, existencial, que conclui o trabalho”
 
Navegando entre o lirismo da poesia e o delírio da loucura
 
Mesmo vislumbrando os tais momentos, Cajat se arrisca a falar que há “algo básico e central” no trabalho, o processo de mudança. “São questionamentos de um indivíduo sobre o mundo atual e seus funcionamentos, representados nas grandes instituições, como a família”. O álbum, prossegue, seria a metáfora de uma passagem pelo açoite até uma libertação. “Este é o ‘Noite Fria’”.
 
Entre as faixas, Cajat se detém sobre “Delíricos Vitais”, uma das únicas que fez de manha bem cedo (“depois de ter dormido à noite, o que é situação raríssima”). “Acho que, quando a gente acorda, está ainda conectado num outro estado. Por isso, a faixa tem uma forma onírica, como os quadros de (Salvador) Dalí. Desprendida da realidade dos sentidos, já começa a ser fantasiosa pelo nome, um neologismo: não há a palavra Delíricos na língua portuguesa. Foi uma brincadeira entre o lirismo da poesia e o delírio da loucura”, esclarece.
 
“Até certo ponto, as músicas do disco foram compostas como uma necessidade vital”, diz ele
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