Bandas femininas mostram qualidade vocal e instrumental e buscam seu lugar

Thais Oliveira - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
03/08/2015 às 07:17.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:11

(Flávio Tavares)

Vamos combinar: o samba faz boa harmonia com os pés das mulheres. Melhor ainda: soa divinamente em suas vozes. Até aí nenhuma surpresa. Se é para tocar ou compor, no entanto, há de rolar um burburinho entre aqueles que desconfiam que dali vai sair coisa boa. “Quase não encontramos meninas na percussão, por exemplo. E quando falamos que um samba foi feito por mulheres, cria-se uma certa expectativa em cima delas”, comenta Soraya Veiga, 29 anos, vocalista do Grupo Teresa.

A banda composta também por Fernanda Régila (percussão e voz), 27, Regiane Costa (percussão), 23, e Karla Matos (violão e voz), 25, acaba de voltar à ativa, depois de sair de cena no fim do ano passado. O quarteto faz parte de um seleto time estabelecido exclusivamente por mulheres. Apesar de muitas musicistas já terem provado o seu valor em diferentes sons, por aqui elas ainda são minoria quando o assunto é formação de banda e, por isso, muitas vezes, são vistas com surpresa na noite belo-horizontina.

 

Para Soraya, parte desse cenário se deve à falta de investimento das próprias artistas. “É muito difícil ver, dentro das partes harmônicas, mulheres que tenham decidido dedicar o seu tempo à música. Então, a gente acaba sendo contratada, às vezes, por curiosidade. As pessoas nos veem com certa incógnita; ficam em dúvida a respeito da nossa capacidade de tocar e cantar (samba)”, afirma.

Soraya conta que as integrantes do grupo, fundado em 2010, não conseguem ainda viver somente da arte. “Eu sou geógrafa, a Fernanda é educadora física e a Regiane é doceira. Mas vemos um crescimento na cena musical de BH e estamos galgando espaço nesse mercado. A nossa expectativa é que o Grupo Teresa consiga nos dar sustento”.

A boa expectativa tem razão de existir. As sambistas, que contam com estúdio próprio, pretendem lançar, no segundo semestre de 2016, um álbum totalmente autoral. “Neste projeto, estamos abordando a nova fase do grupo, o cotidiano, a diversidade e a feminilidade das integrantes. Vamos mostrar a cara da Teresa; abrir as cortinas de cara limpa”.

 

Em 2011, a musicista DehMussulini teve a ideia de legitimar a presença de compositoras na música popular brasileira feita em Minas Gerais. A proposta acabou na reunião de mais sete cantautoras: Irene Bertachini, Michelle Andreazzi, Leonora Weissmann, Leopoldina, Laura Lopes, Luana Aires e Luiza Brina, dando origem ao Coletivo ANA – Amostra Nua de Autoras. “Vimos que existiam mulheres dentro do cenário do rock, hardcore, funk, mas não haviam ações semelhantes que davam empoderamento à mulher na MPB”, diz Irene.

Segundo ela, esta percepção é mais visível em festivais de música, nos quais, comumente, há uma disparidade no número entre bandas masculinas e femininas. “Mas não é que existe menos espaço para nós. A mulher que não tem se posicionado”, opina.

A musicista, no entanto, argumenta que o problema é antigo e está ligado a questões socioculturais. “Quantas presidentas nós temos no mundo? Por que se formam mais cantoras que bateristas e mais professoras que professores? Falta mulher para lutar, sim. Mas é difícil que elas saiam deste lugar, porque, historicamente, são anos de submissão e de políticas que reafirmam esta posição”.

 

O Coletivo ANA lançou disco homônimo no ano passado com canções criadas coletivamente e parcerias com outras compositoras da capital, como Déa Trancoso, Jennifer Souza e Brisa Marques. Agora, as garotas estão gravando um clipe e se preparando para lançar o show “A.N.A Acústico”.

Além de compor e cantar, parte das integrantes são instrumentistas. Luiza Brina e Deh Mussulini são violonistas e Irene Bertachini toca flauta transversal. Tem ainda o quarteto que completa a banda: Luiza Mitre (piano), Natalia Mitre (bateria), Analu Braga (percussão e bateria) e Camila Rocha (contrabaixo).

 

Há quase 18 anos, Lúcia, Flávia e Marina Ferraz decidiram parar de brincar de cantar. O talento das três irmãs já não mais cabia somente nas rodas da família e de amigos. “Foi natural. Nunca tivemos aquele sonho de sermos grandes cantoras”, diz Lúcia. Ainda que sem muitas pretensões, elas se juntaram para criar o grupo Amaranto.

Perto de completar a maioridade, o trio é prova de que onde há qualidade musical, há espaço no mercado, independentemente de gênero sexual. Lúcia, no entanto, assim como Irene do Coletivo ANA, acredita que existe, sim, um número menor de musicistas atuando. “Não é por falta de competência. Acho que por questões sociais acabou surgindo menos mulheres, principalmente, instrumentistas”, avalia.

Apesar disso, Lúcia considera que hoje é mais fácil lançar carreira, o que não significa ter sucesso. “Os espaços que aceitam a MPB, por exemplo, estão diminuindo; muitas casas foram fechadas. Mas as gerações mais atuais não sofrem tanto quanto sofreram as gerações anteriores à minha, porque é possível gravar (CD) rápido. Então, é um desafio para nós, porque esta facilidade aumenta a concorrência. Por outro lado, isso é bom porque faz a gente se mover e mostrar o nosso melhor”, pondera.

Ao longo da carreira, as irmãs produziram sete discos. O mais recente, lançado neste ano, veio encartado no livro “A Menina dos Olhos Virados”, voltado para o público infantil.

 

Ao contrário do trio Amaranto, que começou despretensiosamente, o grupo Maria Bunita, desde a sua origem, almeja alcançar o estrelato. Tanto que a fundadora e vocalista da banda, Samantha Carpinelli, 33 anos, participou, em 2012, da primeira edição do programa global “The Voice Brasil” e teve a cadeira virada por Lulu Santos. Infelizmente, ela não chegou até a final – o que nunca foi motivo para desânimo. Ao contrário, a moça está cada vez mais envolvida com a carreira.

“O Maria Bunita foi criado em 2010, numa época em que o sertanejo já estava muito forte. Sempre com a ideia de ser uma banda apenas de meninas e percebendo este crescimento do sertanejo, fui atrás de artistas que realmente tinham talento para cantar e tocar”, diz Samantha.

De lá para cá, o grupo já teve quatro formações. Atualmente, Samantha (violão e composição) divide o palco com Ana Lopèz (backing vocal, guitarra e violão), Nathalia Castro (bateria e backing vocal), Raquel Lanna, (teclado), Luciana Máximo (baixo) e Karla Matos (violão e backing vocal) – sim, a mesma Karla do Grupo Teresa.

 

Com 14 canções compostas por Samantha, o grupo Maria Bunita lança, ainda neste mês, seu primeiro CD: “Pra Abalar”. “Nossa música é muito alegre e temos como carro-chefe o hit ‘Maria Bunita’. Graças a Deus, temos um público fiel e mais de 14 mil seguidores no Facebook”, comemora a compositora.

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