Belo Horizonte recebe exposição que reúne obras de 19 artistas mineiros

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
30/10/2014 às 08:11.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:50

(Ricardo Bastos)

Já há um bom tempo a fotografia mineira vem ganhando o status que lhe é devido. E muito do que se pensa e se diz hoje sobre esse segmento se deve ao peso das mãos destes três moços que aparecem na imagem acima.

À direita, Eugênio Sávio – fotógrafo e professor na PUC Minas – que está à frente de dois importantes eventos da categoria: o projeto “Foto em Pauta”, que acontece em Belo Horizonte, e o “Festival de Fotografia de Tiradentes”.

À sua esquerda estão João Castilho e Pedro Davi (ao centro), dois dos mais respeitados nomes da fotografia atual – e não apenas no Estado. A dupla é reconhecida internacionalmente por seus muitos trabalhos – como não citar o divisor de águas “Paisagem Submersa”?

E é graças ao esforço desse trio imagético que a capital ganha, a partir desta quinta-feira (30), uma oportunidade rara: ver reunidos, em um único espaço, trabalhos de 19 artistas mineiros dos mais diversos backgrounds.

Ao todo, 104 fotografias e quatro vídeos compõem “Em Desencanto – Fotografia Mineira Contemporânea”, uma mostra que, no início do ano, esteve no Festival de Tiradentes, mas que, por dificuldades diversas, só agora chega aqui.

“O mais importante é que conseguimos trazê-la para Belo horizonte e, mais ainda, que o Festival não se esgotou em Tiradentes”, comemora Eugênio.

“Pela fotografia, trazemos reflexão e questionamento e é bom que isso chegue aqui porque, obviamente, nem todo mundo pôde ir ao Festival em março – nem mesmo todos os artistas que participaram dele. Por aqui, a expectativa é de amplitude da mostra, bem como a oportunidade da repercuti-la”, completa.

No hall dos participantes de “Em Desencanto”, gente já bem conhecida no mercado (como Roberto Bellini e Randolpho Lamonier) divide espaço com nomes que ainda não são tão divulgados, mas que levam ao público obras igualmente instigantes. Toda a trupe foi escolhida depois de inscrever materiais e passar pela seletiva assinada por Pedro e João que, a convite de Eugênio, realizaram toda curadoria da mostra.

“Não há dúvidas de que ‘Paisagem Submersa’ (que também tem autoria de Pedro Motta) é um marco para a fotografia de Minas Gerais. Esses garotos representam, talvez, a primeira geração que teve uma repercussão nacional e internacional com um projeto autoral. Essa mostra, acredito, é uma forma de ‘matar’ ‘Paisagem’ e mostrar ao público outras coisas que já tão acontecendo”, explica Eugênio.

Curioso é que, apesar de nenhuma temática ter sido pré-determinada, os rapazes perceberam, ao observar cada obra que chegava, um conceito que convergia todos os trabalhos: o mundo em desencanto.

 

‘Em Desencanto’, uma exposição heterogênea e experimental

A exposição “Em Desencanto”, que ocupa a partir desta quinta as dependências do Museu Mineiro, é composta por trabalhos que lançam olhares sobre a história, o cotidiano, a fragilidade das coisas – mergulhando fundo no experimentalismo. “Por isso ela é tão heterogênea: tem gente da Escola de Belas Artes, do mercado publicitário e até quem nunca foi um profissional da imagem. Quando iniciamos a seleção, o background das pessoas não nos interessava, mas sim a postura crítica diante do mundo e o alto grau de experimentalismo”, explica João Castilho, de 36 anos, que, ao lado de Pedro David assina a curadoria da exposição.

“O tema inicial era fotografia mineira contemporânea e a ideia proposta a nós pelo Eugênio era mostrar o que estava sendo produzido agora. ‘Em Desencanto’ reúne jovens e veteranos – pessoas que tiveram total liberdade para apresentar o que queriam, nem mesmo o formato foi especificado. É por isso que a mostra também é formada por vídeos”, completa Pedro, de 37 anos.

Foi ao filtrar e organizar as imagens que os rapazes perceberam um diálogo entre os trabalhos ali reunidos. “Foi quando surgiu essa história do desencanto, de um mundo meio arruinado, meio apocalíptico. Há um certo pessimismo na visão pessoal de cada um e acho que isso tem muito a ver com a nossa percepção: a preocupação ambiental, social, um temor sobre o futuro, o desencanto com a humanidade e com o mundo em si”, destaca Pedro.

À frente do Festival de Fotografia de Tiradentes – Foto em Pauta – que existe desde 2010 e onde a exposição estreou, em março último –, Eugênio Sávio, de 48 anos, afirma que o convite aos moços surgiu devido à ligação deles com movimentos fotográficos nos últimos 15 anos. “Quais seriam os personagens preparados para isso? Eles são referência para todo mundo”, resume, para completar:

“A mostra não ficou restrita à fotografia e essa decisão é uma percepção clara do mundo contemporâneo. A fotografia é só mais uma forma de expressão, mas não está fechada em si mesma. ‘Em Desencanto’ é uma reflexão de que devemos estar cada vez mais abertos”.
 

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