BH abre as portas para o filme maldito "Na Carne e na Alma"

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
09/01/2013 às 09:59.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:26

(Divulgação)

Belo Horizonte provavelmente será a primeira e única cidade do país a programar o filme "Na Carne e na Alma" em circuito comercial. Embora bastante elogiado em festivais e na imprensa, o último trabalho do diretor Alberto Salvá, falecido em 2011 de câncer no fígado, ganhou o rótulo de "maldito".

A coragem que sobra no CentoeQuatro – sala que vem privilegiando o cinema alternativo desde que abriu, no segundo semestre do ano passado – faltou nas demais redes no país, que ficaram receosas com o conteúdo "explosivo" do longa-metragem, devido às polêmicas cenas de sexo.

Sujo e feio

O diretor, espanhol de origem, mas naturalizado brasileiro, já tinha polemizado com "A Menina do Lado" (1987), um dos grandes sucessos daquela década, ao enfocar a relação entre uma garota e um homem de idade. Em "Na Carne e na Alma", ele vai mais além, mostrando o lado sujo e feio de uma relação amorosa.

"É um filme sobre a força transformadora do amor, em que o protagonista, Rodrigo, se vê completamente a mercê de sua amada", sublinha o produtor Saulo Moretzsohn ao Hoje em Dia. Sua paixão é tão arrebatadora que ele chega a admirar as fezes dela, numa das sequências mais chocantes para os espectadores.

O que mais gera repulsa na plateia é exatamente o que tem chamado a atenção da crítica, na forma corajosa como Salvá exibe a angústia de Rodrigo. Para o produtor, justificar com essa cena o desinteresse dos distribuidores não passa de hipocrisia.

"Na época da pornochanchada, o cinema brasileiro se fez assim. Não que o nosso filme adote essa linha, mas não podemos negar que tivemos uma indústria autossustentável naquele tempo. Algo que queremos hoje", compara.

Para os atores, também não foi fácil encenar o sexo de maneira que beira o escatológico. Nervoso, Karan Machado pediu para fazer as cenas mais "complicadas" primeiro. "Era para aliviar a tensão para o restante das filmagens. Invertemos o cronograma sem problemas".

Cooperativa

Sem patrocínio, Salvá contou com a boa vontade de sua equipe, que trabalhou em regime de cooperativa. "Eles investiram no filme, na expectativa de que conseguisse se pagar depois. Mas o dinheiro que entrou até agora não é muito", registra Moretzsohn.

Quando buscaram recursos de finalização no Fundo Setorial do Audiovisual, a experiência não foi das mais agradáveis. "No critério experiência, recebemos nota 1. Alegaram que a experiência de Salvá, que tinha 12 longas no currículo, era antiga. Entramos com recurso, mas não quiseram nem ao mesmo reavaliar", lembra.

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