BH hospeda atrações em homenagem ao mestre do Barroco

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
20/09/2014 às 08:30.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:17

(Eugênio Moraes/Hoje em Dia)

Aleijadinho alcançou um nível de reconhecimento tal que se tornou por lei o “patrono da arte no país”. Produto do barroco tardio português, o ouropretano é referência no movimento que, da Europa, se reverberou por países de outros continentes. Ainda assim, muito que se fala sobre ele faz parte do imaginário. Nem mesmo a data de nascimento é precisa. Especula-se que Antônio Francisco Lisboa tenha vivido 76 anos, tendo trabalhado por cerca de 50 deles.   “Até 1995, as publicações existentes só falavam em duas fases em sua carreira: a mocidade e maturidade. Após análise exaustiva das obras que encontrei nos dez primeiros anos de pesquisa, cheguei à conclusão de que havia cinco fases na vida profissional do artista”, conta Márcio Jardim, que por 30 anos dedicou-se à procura das imagens de Aleijadinho nas coleções particulares.   Em ano que se homenageia o bicentenário de morte de Aleijadinho (18 de novembro de 1814), Belo Horizonte hospeda algumas atrações que reportam-se ao artista – entre colóquios, exposição e palestras.    Para além dessas atividades, há ainda, a expectativa de que um dos mais importantes legados do mestre do barroco – os “12 Profetas” (as estátuas feitas em pedra-sabão e que estão dispostas no adro da igreja de Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas) – sejam removidos para um museu a ser inaugurado no ano que vem na cidade.     Aleijadinho arte viva   A velha polêmica que envolve a substituição das esculturas originais dos “12 Profetas” de Aleijadinho por cópias está cada vez mais perto do fim. “Ainda é um projeto, mas sinto que há um entendimento coletivo cada vez mais favorável para a remoção dos ‘12 Profetas’ para o museu que será inaugurado em Congonhas”, afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Ângelo Oswaldo.   Especialistas garantem que a mudança das esculturas para o museu – e das outras 66 obras de Aleijadinho que estão na cidade – é urgente. “São peças monumentais que não serão devidamente preservadas se continuarem expostas como hoje. O risco é permanente, seja pela exposição ao pó de minério que corrói a pedra-sabão, seja pelo vandalismo aos quais já foram submetidas”, destaca Ângelo.   Mais do que garantir segurança integral de todo acervo, se o projeto realmente sair do papel, será possível realizar o mapeamento de cada uma das esculturas, conhecer o sistema construtivo e desenvolver pesquisas. A previsão é de que o batizado “Museu de Congonhas – Centro de Referências do Barroco e Estudos da Pedra”, com projeto assinado por Gustavo Pena, seja inaugurado no primeiro semestre de 2015.   “Esculpindo os Profetas de Congonhas, Aleijadinho confundiu expressamente o drama da cristandade com o drama da humanidade. O drama do Cristo e o drama do seu povo”, destaca Sérgio Bello, artista que assina “Remake Aleijadinho”, mostra em cartaz no Museu de Artes e Ofícios.      ARTISTA ATEMPORAL   “Aleijadinho interpretou não somente o povo brasileiro, mas as nossas almas, as nossas raízes. Ele não somente representou o povo, como traduziu através do seu trabalho o nosso pensamento. Ora, traduzir o pensamento do ser humano através da arte faz com que a arte seja universal e que a nossa relação com a obra seja atemporal”, destaca Ricardo Chaves Fernandes, curador da mostra “Remake Aleijadinho”.   Autor de três catálogos sobre o artista, Márcio Jardim explica que a obra de Aleijadinho é atual porque o próprio barroco reflete as angústias de um ser atormentado entre o conflito céu e terra. “Por isso as expressões de angústia e movimento arrebatado nas obras são percebidas com tanto gosto na civilização atual, uma civilização dos sentidos por excelência. Muitas pessoas hoje em dia se identificam com a maneira ‘viva’ como as imagens barrocas se apresentam”, comenta.    Fernandes lembra ainda que o grande valor da autenticidade do trabalho do artista está na expressão local da arte e fator gerador de questionamentos atemporais. “A força de seu trabalho é tão grande que deixa de ser uma expressão local, para tornar-se universal”.   Até novembro, muitas são as possibilidades do belo-horizontino descobrir ou aprofundar-se em Aleijadinho e no legado deixado por ele. Além da mostra no MAO, vale conferir a palestra de Myriam Ribeiro (sobre “Barroco e Rococó” dentro do seminário “Historiando a Arte Brasileira”) e o Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte promovido pela Escola de Arquitetura da UFMG e que inclui na programação conferências com foco específico na obra de Aleijadinho.     PROGRAME-SE   Aleijadinho discutido na capital   EXPOSIÇÃO “REMAKE ALEIJADINHO” Até 28 de setembro mostra assinada pelo artista plástico Sérgio Bello pode ser visitada no Museu das Artes e Ofícios (Praça da Estação, Centro). Terça e sexta, das 12h às 19h. Quarta e quinta das 12h às 21h. Sábado, domingo e feriado das 11h às 17h. Entrada gratuita.   SEMINÁRIO “HISTORIANDO A ARTE BRASILEIRA”  Dia 10 de outubro, entre 15h15 e às 16h15, palestra com a pós-doutora pela Universidade de Paris-Sorbonne, Myriam Ribeiro de Oliveira. Na ocasião, a historiadora fala sobre “Barroco e Rococó no Brasil”. A apresentação acontece no Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal). Entrada gratuita com inscrição prévia pelo www.comartevirtual.com.br/    IX COLÓQUIO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA ARTE De 2 a 5 de novembro, das 8h30 às 19h, a Escola de Arquitetura (r. Paraíba, 697, Funcionários) recebe o evento que homenageia os 200 anos de morte de Aleijadinho. Mais informações: www.forumpatrimonio.com.br/aleijadinho/

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