"Carga Viva" traz o universo dos burrinhos do Parque Municipal

Paulo Henrique Silva* - Hoje em Dia
24/09/2013 às 09:04.
Atualizado em 20/11/2021 às 12:42

BRASÍLIA – A filmografia de Minas Gerais nunca esteve tão em destaque como na 46ª edição do "Festival de Brasília", um dos mais importantes do calendário cinematográfico do país. Representantes do Estado têm boas chances de ganhar os principais prêmios das cinco categorias (longa-metragem de ficção e documentário e curtas de animação, ficção e documentário), que serão conhecidos na noite desta terça-feira (24), no Cine Brasília.

Embora Guimarães Rosa, retratado em "Outro Sertão", esteja fortemente ligado à cultura mineira, o documentário se concentra na estadia do escritor na Alemanha nazista, o que faz do curta "Carga Viva" o trabalho que mais se próxima de nossa realidade, especialmente de Belo Horizonte.

Personagens centrais do filme, os burrinhos do Parque Municipal são parte da memória afetiva da cidade.

Contraste

A diretora Débora de Oliveira registra essa história viva de maneira menos óbvia, justamente tirando o seu significado para os belo-horizontinos.

Não há informações sobre em qual parque os animais estão, apesar de o local ser facilmente reconhecível para quem é da capital mineira, ou sobre seu papel como entretenimento barato e marcante que atravessa uma história de mais de 60 anos.

"Já fizeram muitas reportagens sobre eles. Queríamos mostrar a relação da família (proprietária dos burrinhos) com o ofício, com a cidade e entre eles, sem a necessidade de ficar datando", afirma Débora, que permaneceu várias semanas apenas acompanhando o vai e vem de Frajola, Mosquito e outros animais entre o distrito de Serra Azul, em Mateus Leme, e o centro da capital mineira.

O foco central é a família de Rafael Antunes, que deu continuidade a uma atividade iniciada pelo pai, Zacarias, mote para o documentário traçar o contraste de um ofício quase obsoleto com a correria da cidade grande.

Para Débora, natural de Barbacena e formada em Comunicação Integrada pela PUC São Gabriel, o filme busca fazer a junção entre dois espaços: o campo e a metrópole.

Resistência

Diretor de fotografia do curta, Lucas Barbi assinala que o plano final de "Carga Viva", em que vemos o Parque Municipal e seu entorno do alto do hotel Othon Palace, na avenida Afonso Pena, é revelador dos objetivos do filme, em que a natureza surge dentro da cidade grande, com a roça se aproximando de crianças que nunca tiveram esse tipo de contato. "É o que faz do parque um pequeno espaço de resistência".

Ralph Antunes, responsável pela montagem e pela produção executiva, salienta que o filme foi construído junto com a família proprietária dos burrinhos, tendo o cuidado de não expô-los.

"Não queríamos direcionar o olhar, adotando uma linguagem mais poética. Nossa referência é outro tipo de documentário, mais ‘observacional’", registra Antunes, que enaltece o diretor mineiro Marcos Pimentel como uma espécie de "guru" do grupo. l

Helvécio Marins mostra seu curta "delirante"

"Acho que mereço parabéns", provoca o mineiro Helvécio Marins Jr., ao se dirigir à mesa de debates do Festival de Brasília, ontem. Ele não estava falando de seu curta "Fernando que Ganhou um Pássaro do Mar", codirigido por Felipe Bragança, mas da camisa do Atlético – provavelmente uma provocação ao colega Gilberto Scarpa, conhecido por percorrer festivais exibindo as cores do Cruzeiro.

Gostos futebolísticos à parte, o filme marca uma nova trajetória no trabalho de Marins Jr., muito diferente dos documentários de observação que realizou para o coletivo Teia. Por ser a primeira obra exibida nos cinemas após a saída da produtora, a expectativa era grande. E se confirmou com um curta "delirante", expressão do próprio diretor. "Acho que estou encontrando o meu caminho. Me sentia meio podado (na Teia), em torno de alguns discursos".

O enredo transita entre Brasil e Portugal, mostrando um português que recebe um papagaio de um remetente brasileiro anônimo, que, em seu imaginário, pode ser um índio, uma sereia ou um jovem conterrâneo. É o mote para Marins e Bragança traçarem comparações entre o ontem e o hoje, seja do ponto de vista social e político quanto do econômico. A ideia surgiu após o mineiro ser convidado pelo "Festival Vila do Conde" para fazer um curta alusivo aos seus 20 anos de existência.

"Chamaram dois tubarões – o bielorrusso Sergei Loznitsa e o americano Paul Thomas Anderson – e uma sardinha: eu. Fiz ‘O Canto do Rocha’ e aproveitei um personagem secundário para outra história, usando os dias de filmagem que restavam", diz Marins, que assume inspirações indiretas do cinema marginal brasileiro, especialmente de obras de Andrea Tonacci, Rogério Sganzerla e Julio Bressane.

Em busca do Candango - Filmes mineiros em competição

Longa de ficção
"Exilados do Vulcão", de Paulo Gaitán

Longa documentário
"O Mestre e o Divino", de Tiago Campos
"Outro Sertão", de Adriana Jacobsen e Soraia Vilela

Curta de ficção
"Fernando que Ganhou um Pássaro do Mar", de Felipe Bragança e Helvécio Marins Jr.
"Tremor", de Ricardo Alves Jr.

Curta documental
"Carga Viva", de Débora de Oliveira

Curta de animação
"Quinto Andar", de Marco Nick


* Viajou a convite do evento

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