Caso Gerald Thomas e Nicole Bahls: piada ou abuso sexual?

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
21/04/2013 às 16:04.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:00

  A internet está recheada de debates quentes. Maioridade penal, comentários de famosos, deputado Marcos Feliciano... Discussões bastante reveladoras dos posicionamentos políticos dos brasileiros sobre assuntos urgentes. Seriam embates entre os “politicamente corretos” (de acordo com a pauta dos movimentos sociais) e os “politicamente incorretos”?
Um assunto que gerou um embate interessante foi o caso ocorrido no lançamento de um livro de Gerald Thomas, no último dia 10. A polêmica se deve ao momento em que o diretor teatral enfiou a mão debaixo do vestido da “repórter” do “Pânico na TV”, Nicole Bahls. De um lado pessoas entenderam a cena como um abuso sexual, de outro viram no ato uma brincadeira com a mesma agressividade da tradicional abordagem do programa.   Provocador nato
O jornalista e crítico de revistas como “Billboard” e “Rolling Stone” José Flávio Júnior acredita que as críticas foram precipitadas. Quem teria visto o vídeo saberia que a ação faz parte do contexto da trajetória de Gerald Thomas (sempre pronto para chocar com a nudez e a citação ao sexo) e do programa de humor. Foi uma piada dentro de um contexto.
“Gerald executou uma piada a partir do nome da garota”, diz o crítico, lembrando que o “Pânico” defendeu publicamente o diretor de teatro. “Ele é um provocador nato, sempre bateu de frente e nunca teve freios em sua arte. Sua ação ornou com toda situação. O que destoou foi a reação exagerada das pessoas”.
Para ele, as pessoas “embarcam em um bonde”, em nome do que é mais adequado ou correto a ser dito. “As pessoas têm dificuldade de lidar com ironia, cinismo e grosseria”.   Rotulação falha
O blogueiro e defensor dos direitos humanos Leonardo Sakamoto acredita que se falar em “politicamente correto” é correr o risco de cair numa rotulação falha. No caso Thomas/Bahls, para ele, o que fica é uma discussão sobre o humor brasileiro. “O bom humor é aquele que subverte uma ordem estabelecida. O problema é que esses artistas que se sentem subversivos, na verdade, são bobos, pois não subvertem a grande ordem. Não tiram sarro dos ricos e poderosos, mas dos mais frágeis e das minorias”, afirma o blogueiro.   Preconceiro
  Para ele, Thomas é careta, nada subversivo como imagina, por se mostrar tão machista quanto boa parte dos homens. Vale lembrar que, no dia seguinte ao lançamento, Thomas escreveu em seu blog: “A mulher não é um objeto. Mas não deveria se apresentar como tal”, se referindo ao papel desempenhado por Nicole Bahls.
“Fazer piada é uma das formas mais populares de se manter a ordem. Satirizar negros, loiras, mancos faz parte do processo de dominação hegemônica”, diz Sakamoto, para quem é possível fazer piadas inteligentes e realmente subversivas. “A ‘TV Pirata’, nos anos 80, dava tapa na cara da sociedade ao mostrar quanto era ridícula a postura preconceituosa”. l

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por