Parceiros de vida, parceiros de palco. Há nada menos que 25 anos a pianista Lúcia e o flautista Sérgio dividem o sobrenome Barrenechea (de origem basca, diga-se de passagem) e a vontade de espraiar música de qualidade por todo o território brasileiro.
Para balizar este momento especial da vida, o duo acaba de lançar o combo DVD e CD “Brasileiríssimos: Encontros”, no qual apresentam uma viagem pela música brasileira. O disco audiovisual traz um documentário, com duração aproximada de uma hora e meia, e que foi filmado de janeiro a abril do ano passado, em cidades como Brasília, Goiânia, Pirenópolis, Rio de Janeiro e Tiradentes.
REPERTÓRIO
Hercúlea, no caso, foi a tarefa de fechar o repertório. “Sim, foi difícil, pois tínhamos um limite de duração. Portanto, tentamos oferecer uma amostra de cada tendência estética do vasto repertório que sempre tocamos, incluindo de músicas de concerto mais ousadas, caso de Estércio Marquez Cunha (“Música Para Flauta e Piano nº 2”), até a música de proximidade à linguagem popular, caso de Elenice Maranesi (“Céu de Maio”)”, pontua Sérgio. Como também havia a vontade de incluir ao menos uma música inédita, o casal convidou Vittor Santos e Liduino Pitombeira para compor especialmente para o projeto. “Para nossa felicidade, eles aceitaram!”, diz o flautista, referindo-se a “Divagações nº 37: Bodas de Prata”.
Entre as demais obras selecionadas, estão, por exemplo, “Odeon”, de Ernesto Nazareth; “Três Peças”, de Francisco Mignone, ou “Sonata Breve”, de Ian Guest.
Mas Sérgio cita como uma das mais emblemáticas a faixa “Tardes Goianas”, de Rafael dos Santos, “pois, além de ter sido dedicada a nós, remete ao período em que morávamos em Goiânia, terra da Lúcia, de onde temos ótimas lembranças”.
Sensibilidade
Bem recebidos por onde passam, Sérgio e Lúcia creditam os louros ao fato de a música ser uma linguagem universal, que toca a sensibilidade humana. “Se a música é de qualidade, independentemente do estilo, as pessoas vão entender sua mensagem estética. Nos sentimos privilegiados de atuar numa área que proporciona essa experiência ao público”, diz ela.
No geral, Sérgio lembra que a jornada dos dois instrumentistas tem sido extremamente gratificante, “porque a gente sempre encontrou colaboradores sintonizados com nossa intenção de valorizar o que é nosso, o que é brasileiro”.
‘Tememos um retrocesso na recepção a esse tipo de música’
O fato de dividirem o mesmo teto acaba sendo um facilitador para o Duo Barrenechea. “É muito bacana ter essa afinidade na vida e no trabalho. No nosso caso é um facilitador, sim! Em alguns aspectos da vida de casal, já foi mais complicado, como quando tínhamos crianças pequenas para criar. Mas hoje em dia está tudo mais tranquilo”, diz ele.
Apresentação em BH
Quanto ao universo no qual optaram por transitar, Sérgio ressalta a grande produção de música instrumental e de concerto de qualidade no Brasil. “O que precisamos é de um maior incentivo das esferas governamentais para difusão desse tipo de música que, às vezes, fica em segundo plano. Este ano, por exemplo, a Funarte não lançou editais de fomento para o segmento da música de câmara. Portanto, tememos um retrocesso na recepção, no consumo, na apreciação, no acesso que o público tem desse tipo de música”, desabafa.
Em meio a incertezas, a boa notícia é que os dois já têm data para se apresentar na capital mineira: no próximo dia 20, Sérgio e Lúcia comparecem ao palco do Conservatório UFMG (av. Afonso Pena, 1.534, Centro – Fone: 3409-8300) para o lançamento dos dois trabalhos por aqui. (PC)