'Chacrinha' refaz na telona a trajetória de sucesso do Velho Guerreiro

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
26/10/2018 às 17:55.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:27

(GLOBO FILMES/DIVULGAÇÃO)

O bordão “Alô, Terezinha?!” nasceu após Chacrinha perguntar o nome de sua assistente na Rádio Tupi, no final dos anos 40. Ele não queria abrir mão do bordão “Alô, Clarinha?!”, quando o anunciante saiu, mas ao ouvir a resposta da funcionária (Ordep , Pedro ao contrário), teve que recorrer ao nome da mãe dela. Para quem conheceu a trajetória de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, talvez o maior comunicador do rádio e da TV no país, o filme “Chacrinha: o Velho Guerreiro”, em cartaz a partir desta quinta, surge como um alentado guia de curiosidades. Do apelido Chacrinha à ideia do bacalhau jogado à plateia, nada parece escapar à trama. Dirigido por Andrucha Waddington, o longa se deixa guiar em excesso por estas balizas de construção de um personagem icônico, especialmente em sua primeira metade, perdendo de vista o que poderia oferecer de mais precioso: o homem por trás do apresentador, um dos poucos que ousou a dizer o que pensa a Boni, o todo-poderoso da Rede Globo à época. Há uma frase lapidar, feita pela então namorada Florinda, quando ela pergunta se está diante do Abelardo ou do Chacrinha, já que os dois se fundiam muitas vezes. Essa noção, que renderia um interessante elemento de sustentação dramática, acaba deixada de lado no filme, que se divide em alguns momentos bons com o protagonista no palco e outros, mornos, quando longe dos holofotes.  “Chacrinha” se ressente desta ligação mais densa entre aquele que contagia as pessoas em casa com o seu jeito espalhafatoso e anárquico, e o pai e marido ausente. Falta à narrativa estes matizes que tão bem servem a outras cinebiografias recentes, como “Simonal” e “Dez Segundos para Vencer”, sobre Eder Jofre, indo de encontro às sombras (ainda que, no segundo, ela venha na forma do pai de Jofre). A pergunta que precisa ser feita é: qual o embate que o personagem carrega? O do nordestino que busca vencer no Sul Maravilha? Este parece esquecido após os primeiros 20 minutos. O do homem genial censurado e podado? Embora presente, ele não surge de forma forte o bastante para trazer toda história consigo. Outro desacerto é diminuir a importância dos personagens que rodeiam Chacrinha, da mulher aos filhos, passando por Oswaldo, amigo e nome fundamental na trajetória do apresentador. Talvez fosse uma saída para o fato de muitos deles ainda estarem vivos, mas pune uma obra com ótimos atores, em especial Stepan Nercessian, no papel do Velho Guerreiro.

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