A história dos ciganos no Brasil se confunde com a própria história do país: o registro mais antigo da sua chegada é datado de 1574. Desde o século 18 era notável a presença dos Kalon em Minas – em tempo: os ciganos são divididos em três grandes grupos: os Sinti, os Rom e os Kalon.
Especialmente em Belo Horizonte residem, há pelo menos 30 anos, dois grandes acampamentos. São quase 100 famílias que, contrariando o (pré)conceito de nômades, fixaram morada nos bairros São Gabriel e Belmonte (zona Nordeste da capital); e Céu Azul e Lagoa (ambos na região da Pampulha).
Lá, preservam manifestações culturais de sua gênese. Práticas que vão da organização dos acampamentos até a ornamentação das tendas. Das vestimentas coloridas à utilização de uma língua própria que mescla português com dialeto bem característico.
Para o cigano Kalon Carlos Amaral, de 45 anos, representante da comunidade que vive no São Gabriel, uma das principais demandas do grupo passa pela regularização dos acampamentos de forma a torná-los dotados de infraestrutura adequada para melhor qualidade de vida do seu povo.
“Ser nômade nunca foi uma opção, mas uma condição que por séculos nos foi imposta – éramos expulsos dos lugares por onde passávamos. Agora, o desafio é sermos tratados como qualquer pessoa – seja num posto de saúde, escola ou fila de banco. Não queremos benefícios, nós lutamos pela igualdade”, explica o líder.
O preconceito também é outra barreira. “Quando um cigano faz algo errado todos os outros pagam por ele. Tem gente que nunca falou comigo, mas me odeia só porque sou cigano. É o preconceito que fere a nossa alma”, afirma o cigano Kalon Ronan Oliveira, 29 anos.
Tradição nas festividades e no compromisso com o outro
Diante dos nossos olhos vive um povo que mantém tradições seculares, completamente diferentes dos costumes ocidentais.
É estranho imaginar, por exemplo, que uma menina de 12 anos e um garoto de 14 estejam prontos para casar. No mundo cigano, no entanto, essa é a ordem natural das coisas, porque afinal, namoro não é permitido e para além disso, “tem sido assim ao longo dos séculos”, justifica Amaral.
Dentro de uma casa cigana também é somente o homem quem sustenta a família. “Nós pagamos todas as contas, até o tecido para as nossas mulheres fazerem seus vestidos, mas cabe a elas cuidar da casa, dos nossos filhos, da nossa família. Eu sinceramente acho que esse trabalho é mais difícil. Não serviria jamais para ser uma mulher”, brinca Ronan.
Assim como todas as outras ciganas, Cristina do Amaral, de 27 anos, e esposa de Ronan, é quem tece a própria roupa. Renda por renda, lantejoula por lantejoula. À reportagem, ela exibe o armário, orgulhosa dos vestidos e saias rodadas repletas de cores e brilho. “Porque a vida precisa de cor, e o brilho atrai alegria”, explica a moça.
Os dentes de ouro também são vistos no sorriso dos ciganos – escolha para se fazerem ainda mais bonitos, garantem.
Depois de três décadas vivendo em Belo Horizonte, somente agora as crianças, filhas de ciganos, começam a frequentar escolas. É como se só agora os ventos, finalmente, começassem a soprar para um nova direção. A maioria dos que têm mais de 30 anos é analfabeta.