Assim como jornalistas, os historiadores assumem riscos ao contar uma história. Embora busquem a intocável verdade, têm de lidar com recortes, pontos de vista e dados muitas vezes impossíveis de serem apresentados de forma completa. Quanto mais aberto o leque, maior o risco. Por isso, seria fácil jogar pedra na inglesa Emma Marriott, autora de “A História do Mundo para Quem Tem Pressa” (editora Valentina), se não fosse a importância de reconhecer a coragem da escritora.
A historiadora tentou compilar, em 180 páginas (mais 20 de créditos, bibliografia etc), os últimos 5 mil anos da humanidade. Ou seja, desde o surgimento das primeiras grandes civilizações. Projeto ousado, levando-se em conta o fato de Marriott abordar todos os continentes. Sim, até a história da Austrália foi, de alguma forma, inserida na publicação.
O problema é óbvio: é impossível contar bem a história da humanidade em tão poucas páginas. Mesmo assim, Marriott consegue, ao menos, citar boa parte dos mais importantes acontecimentos históricos. Destaque especial para aqueles ocorridos na Ásia e Oceania, ignorados por boa parte dos livros didáticos brasileiros.
A grande questão é: a quem interessa esse tipo de leitura? Para um amante de livros históricos, esse título pode parecer banal. A estudantes, raso demais. A quem não gostava das aulas dos tempos de colégio, totalmente sem graça. Talvez possa ser útil àqueles que vão realizar algum tipo de prova (o Enem, entre eles) e necessitam de uma leitura rápida.
Deficiências
“A História do Mundo para Quem Tem Pressa” tem muitas deficiências. Aqui há pouco espaço para análises mais consistentes. Por exemplo, ao tratar do Iluminismo, a autora cita nomes importantes daquele momento intelectual, como Rousseau e Voltaire, sem descrever melhor sobre livros e pensamentos de ambos. No fim das contas, de que adianta saber que esses foram iluministas se não soubermos que contribuições trouxeram ao mundo? Uma sucessão de fatos e nomes não faz a História, mas, sim, o universo social, econômico e político em que eles ocorrem.
Há incoerências temporais – o tema “revolução industrial” aparece posteriormente à “revolução francesa”. Há a supressão de informações fundamentais para assuntos importantes, enquanto outras são colocadas a partir de visões deturpadas. A autora chega a dizer que a Inglaterra declarou a abolição da escravatura porque a “brutalidade” teria alcançado “a consciência de muitos europeus”. Nas universidades brasileiras aprende-se que, na verdade, a maior motivação foi econômica. A Grã-Bretanha precisava estimular a criação de mercados consumidores para dar vazão à produção crescente graças à revolução industrial.