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Lobisomens, vampiros, múmias e assassinos em série. Ao contrário do que muita gente imagina, esses personagens clássicos do cinema de horror não são exclusivos das superproduções de Hollywood, frequentando temperaturas mais tropicais, onde o sol é bastante quente e as mortes são prato cheio para os telejornais.
Uma das convidadas da mostra “Medo e Delírio no Cinema Brasileiro Contemporâneo”, com início nesta sexta-feira (24) no Cine Humberto Mauro, a professora e pesquisadora Laura Cánepa destaca que o horror é um dos gêneros mais universais do cinema, o que explica a tentação dos diretores do país em criar seus Dráculas e Frankensteins, mesmo que seja na forma de humor.
O máximo que o cinema nacional chegou perto de um personagem legitimamente brasileiro foi com Zé do Caixão, um dono de funerária que, de acordo com Laura, encarna uma ideologia afinada com as classes mais abastadas. “Ele pertence a uma certa elite interiorana e se vale muito do poder econômico para fazer valer a sua violência”, observa.
Mas não espere o mesmo tratamento em relação a elementos de nosso folclore, como Boi Tatá e Mula Sem Cabeça. “Os temas mais frequentes são mesmo fantasmas, vampiros e possessões demoníacas”, explica a professora, que ministrará a palestra “Medo de quê? Uma História do Horror no Cinema Brasileiro” no penúltimo dia da mostra, no sábado da semana que vem. Com sua tese de doutorado, de mesmo nome e defendida há quase dez anos, Laura foi uma das primeiras estudiosas do assunto, levantando quase 200 filmes que lidaram direta ou indiretamente com nossos medos. Ela dividiu essa produção em várias tendências, que vão da violência mais explícita à abordagem infantil.
Filmes como “O Segredo da Múmia”, de Ivan Cardoso, brincam com alguns clichês do cinema estrangeiro, traduzidos para o contexto brasileiro, enquanto outros investem num horror mais psicológico. Entre os que seguiram essa última vertente estão Walter Hugo Khouri e Carlos Hugo Christensen, argentino radicado no Brasil.
Apesar de a crítica só agora reconhecer essa produção, Laura revela que o público já sabia dar valor a esse gênero. “Tinha mais público do que agora. O Mojica já fazia sucesso nos anos 60”, compara.
A mostra, que tem entrada franca, se dedicará apenas às obras produzidas nas décadas de 1990 e 2000, totalizando 39 filmes (23 longas-metragens e 16 curtas), assinados por diretores experientes e novatos.