(CINEFOOT/DIVULGAÇÃO)
Dificilmente um boleiro irá se lembrar de um escrete formado, entre outras, por Arletina, Cleonice, Enedina e Noemia. A história do Mineiras Futebol Clube virou notícia em 19 de abril de 1940 não pela desenvoltura delas com a bola nos pés, mas pelo atrevimento das jogadoras, presas pela “escandalosa” prática de um esporte masculino em via pública, numa rua do bairro Carlos Prates, em Belo Horizonte.
É um dos muitos casos de apagamento histórico (ou impedimento crasso, para ficar no jargão futebolístico) que vigoravam até há pouco tempo – em 1979, num país então tricam-peão, formar equipes com mulheres era proibido pela legislação. São relatos que estão sendo reunidos, de forma inédita, pelo CineFoot Mulheres, que realizará debates e apresentará filmes sobre o tema.
Com início hoje, de forma on-line, o festival é o primeiro com este recorte no Brasil, um desdobramento do CineFoot, que há 11 anos vem destacando o esporte bretão nas telas de cinema. “O país do futebol é também formado por mulheres. O decreto governamental, que estabeleceu 40 anos de impedimento, foi muito cruel e criou um limbo enorme nesta história”, afirma a coordenadora Daniela Fernandes.
Ao contrário do que se pensa, a filmografia brasileira sobre futebol feminino e/ou com mulheres na direção e produção já merece um troféu. “São 72% dos filmes exibidos em todas as edições do CineFoot. É um número muito expressivo para não se ter um festival próprio”, registra Daniela, que dá o pontapé em BH, sublinhando rica história que tem em Marta uma das protagonistas.
Considerada a melhor jogadora do mundo seis vezes, a atacante alagoana tinha 16 anos quando aceitou jogar no Santa Cruz, vinda do Vasco da Gama. Aqui permaneceu até ser contratada por um time da Suécia, em 2004. Marta é a grande estrela do filme “Futebol para Melhor ou para Pior”, uma das 16 obras presentes na seleção, que poderá ser acessada, gratuitamente, pela plataforma da Looke.
A ideia da coordenação é focar, a cada edição, uma cidade diferente. A próxima deve ser Porto Alegre. “Vamos replicar este mesmo modelo para o Brasil inteiro, contando a história de várias mulheres a partir da publicação de cadernos de memórias. Não podemos deixar essa luta em vão. Vamos ver que, mesmo expostas ao machismo e criminalizadas, os relatos delas são incríveis”, assinala.
Daniela cita a história de um time formado em Araguari, no Triângulo Mineiro, em 1959, e que disputou uma série de jogos de exibição, com objetivos beneficentes, em várias cidades do Brasil e exterior. Em BH, jogaram no Independência, vestindo as camisas de Atlético e América, diante de 20 mil espectadores.
Para a coordenadora, a diferença do CineFoot Mulheres para o CineFoot é que o primeiro tem forte carga política. “É um festival em defesa das mulheres, de igualdade e condições melhores para estas meninas jogarem. Toda esta movimentação é por melhoria no futebol feminino. Levar esta bandeira para um evento cultural só tende a nos fortalecer”.