EM TERRA FIRME

Circuito urbano de arte chega à sétima edição com pintura inédita do MST

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
16/09/2022 às 10:43.
Atualizado em 16/09/2022 às 10:50

O encerramento do Cura será no dia 25, com show de Mateus Aleluia, cantor, compositor e pesquisador da músicas ritualísticas afro-brasileiras, além de apresentação de DJs (FERNANDO MICHEL/DIVULGAÇÃO)

Grande atração da sétima edição do Circuito Urbano de Arte, a participação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) entre os grupos de artistas que assinarão as pinturas de empenas na região da praça Raul Soares, no Centro de Belo Horizonte, foi guardada a sete chaves.

“Essa informação a gente resguardou até hoje (a última quarta-feira), por causa do seu impacto”, explicou Priscila Amoni, uma das idealizadoras do Cura, durante anúncio da programação. O coletivo começou ontem, data da abertura do festival, a pintar uma das laterais do edifício Rochedo, na rua dos Goitacazes.

“É um marco muito forte para o Cura receber o primeiro mural de um movimento tão importante do Brasil. É a primeira empena do MST, (resultado) desse desejo do movimento em adentrar cada vez mais no mundo do mural para poder relatar a sua história, fazendo coro ao movimento muralista dos zapatistas, no México”, registra.

A proximidade da organização de um dos maiores festivais de arte urbana no mundo com o MST se intensificou em julho, quando Amoni e as outras duas criadoras do Cura, Juliana Flores e Janaína Macruz, foram convidadas a dar uma oficina na Escola de Artes João das Neves, pertencente ao movimento.

“Fomos lá para compartilhar nosso conhecimento com a ocupação de espaços públicos. Foi uma experiência transformadora. Descobrimos artistas incríveis lá dentro”, relata Priscila. O tema deste ano, focado na terra, foi mais ingrediente que fortaleceu a decisão de ter o MST no time de artistas.

Além de ter a praça Raul Soares novamente como palco central de suas atividades, o festival voltou a trabalhar com os elementos da Natureza. “Nossa narrativa, em 2021, tinha a ver com exaltar o rio Amazonas e a força das águas. Neste ano a gente chega em terra firme”, explica.

Priscila salienta que a escolha temática vem de “um cenário tão conturbado que nos encontramos hoje, tornando essencial falar de terra”. O elemento surge em todas as suas faces, “desde o barro, a argila, o tijolo, até a terra como questão central da solução do Brasil”.

Será a oportunidade para falar de questões urgentes, como a distribuição de terra, a situação da classe trabalhadora e a demarcação dos territórios indígenas. “A terra vai aparecer tanto na sua plasticidade e cores quanto nas pautas que levantamos”, enfatiza a idealizadora.

Não por acaso, a programação conta com artistas indígenas, negros e LGBTQIA+. É o caso de Sueli Maxacali, uma liderança da tribo indígena que traz a ideia de uma arte que não está separada da vida, estando ligada, segundo Priscila, à sobrevivência e aos dizeres de um povo.

Enquanto Sueli ficará responsável pela parede do edifício Roma, na avenida Paraná, o maranhense Pedro Neves, residente em Betim, pintará a empena do Copacabana. “É um artista negro, periférico, que vem se destacando. Estamos apostando nossas fichas nesse lançamento dele”.

Priscila destaca outro ponto inédito no Cura 2022: todos os artistas são estreantes em pinturas de prédio. Eles contarão com uma equipe com expertise para esse tipo de trabalho. A edição também marca a entrada do festival no NFT (“token não fungível”, obra digital única que tem uma espécie de assinatura digital).

Artista não-binária, Willand é uma dançarina de vogue do Aglomerado da Serra que terá um “lambe” de sua obra afixada no Hotel Sorrento. Ela foi selecionada por convocatória. “Estamos abrindo a nossa carteira para o mundo digital. A cultura do NFT é interessante por ter um lado inclusivo”, destaca.

Na Praça Raul Soares, chamam a atenção os inúmeros personagens feitos de barro, de autoria da baiana Selma Calheira, reunidos como se tivessem fazendo uma espécie de levante. “Nesta edição, o Cura fala muito disso: muitas pessoas juntas pela mudança, pela voz de um povo em prol da igualdade”.

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