"Clarissa", de Érico Veríssimo, completa 80 anos de lançamento

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
20/05/2013 às 07:35.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:49

As palavras são ingênuas e alegres em "Clarissa" – primeiro romance do porto alegrense Érico Veríssimo (1905–1975), livro inspirado "numa menina que meu pai viu passar, mas que nunca identificou", conta o filho caçula de Érico, o também escritor Luis Fernando Veríssimo em entrevista por e-mail.

Neste 2013 a obra completa 80 anos de lançamento (desde 1933, "Clarissa" teve cinco edições e foi reimpressa 49 vezes) e, apesar de não ser considerada (nem pela crítica, nem pelo próprio autor) como o mais genial, abriu portas para clássicos como "Olhai os Lírios do Campo" (1938) e a trilogia "O Tempo e o Vento" publicados nos anos 1949, 1951 e 1962.

E não somente. O afeto pelo primeiro romance foi tamanho que, dois anos mais tarde (1935) Érico batizou a filha com o mesmo nome do livro.

"O meu nome era para ter sido Ana Maria, mas com o sucesso de 'Clarissa', dois anos antes do meu nascimento, não teve outra escolha. Sempre gostei do meu nome e nunca pensei em mudar", garante Clarissa Jaffe Veríssimo, pintora e atriz pela Catholic University of America.

Perto do coração

Casada com o físico David Jaffe desde 1956, mãe de três filhos, Clarissa vive nos Estados Unidos e conta que apesar da distância do Brasil – e das oito décadas de "Clarissa", as pessoas ainda têm impacto quando a conhecem pela primeira vez.

"Elas dizem: 'esta é a Clarissa do livro', então preciso sempre explicar que não sou a Clarissa do livro, mas sim Clarissa por causa do livro".

Érico venceu importantes prêmios de literatura, como o Jabuti (1966), Juca Pato (1967), PEN Clube (1972) e o da Fundação Moinho Santista (1973).

Clarissa recorda que quando casou-se, o pai escrevia-lhe sempre, mesmo que somente um bilhete. Começava as cartas como "Querida Clara", "Claroca", "Claruca", "Clorinha" ou "Shirley Terezinha", dependendo do momento.

"Gostaria de dizer que tudo da 'Clarissa' existe em mim, mas não seria verdade. Nunca 'me vi' neste personagem, nem quando tínhamos a mesma idade".

"O que eu faço é bem menos importante"

"Acabei escritor um pouco por acaso", diz Luis Fernando Verissimo, de 76 anos, completando em seguida: "e não temi comparação por ser o filho de Érico Veríssimo, mesmo porque o que eu faço é bem diferente e menos importante do que ele fez".

Caçula de Érico (que teve apenas dois filhos) Verissimo conta que o pai considerava "Clarissa" um pouco ingênuo, "mas que valia como um exercício de estilo".

Apesar disso, o livro deu nome à irmã e à ela situações inusitadas. "Ela já encontrou várias Clarissas que devem seu nome ao livro. Inclusive uma garçonete brasileira num restaurante americano, que ficou emocionadíssima com o encontro".

Do pai, Verissimo diz que a primeira parte da trilogia "O Tempo e o Vento" ("O Continente", de 1949), é a que mais gosta. "Já 'Clarissa', não lembro que tenha me inspirado, mas li com muito prazer na adolescência", recorda.

Érico, que só lia os textos do filho depois de serem publicados no jornal, é lembrado por Verissimo como um humanista: "homem bom e muito ligado à família".

De volta

Em março último, Luis Fernando voltou a dar-nos um susto: pela segunda vez foi internado no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, por causa de dores no peito.

Recebeu alta dias depois e tão logo se restabeleceu escreveu, sem perder o humor, sua primeira crônica intitulada "Como foi a morte que sonhei".

Mesmo rendido à paixão pelo jazz (desde a infância quando foi morar nos EUA com os pais e a irmã) e pela literatura, o escritor confessa que não encontrou nenhum consolo literário no tempo que esteve internado. "Eu só queria sair de lá".

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por