(Guto Muniz)
As transformações do corpo e os conflitos vividos pela mulher durante a gravidez impulsionaram a atriz belo-horizontina Carolina Corrêa a conceber o espetáculo “Carolina, de Lorca”. A peça, em cartaz no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil, pela Campanha de Popu-larização do Teatro e da Dança, assume um tom autobiográfico, ao mesmo tempo em que dialoga com diversas gestantes. A atriz decidiu investigar o tema durante a gravidez da filha Lira, hoje com 2 anos. “Existe a ideia de que a maternidade é plena, e tudo, maravilhoso. Mas também vivenciamos frustrações, mudanças corporais e de humor. São coisas camufladas pela sociedade”, explica Carolina, que escreveu um diário durante os meses de gestação. Quando recebeu o resultado positivo, ela fazia pós-graduação em performance. “Todas as leituras me estimularam a produzir algo que fosse relacionado à minha gravidez”, revela. A partir disso, ouviu outras mulheres, e os relatos entraram no espetáculo em forma de vídeo, assim como projeções do próprio corpo. O humor é o fio condutor do espetáculo, que transita entre o teatro documental e a performance. Sob direção de Antônia Claret e Léo Kildare, a dramaturgia vem da fusão das experiências da atriz e das entrevistadas com a ficção de Federico García Lorca. O texto “Yerma”, do poeta e dramaturgo espanhol, foi apresentado por Kildare à atriz. “Fala da mulher que vive o drama de não poder conceber um filho. Utilizei a identificação com a obra para abordar o momento da espera e os clichês em torno da gravidez”, conta. Para dar corpo à dramaturgia, Carolina se utiliza não só da linguagem teatral mas também da dança, proporcionando ao espectador diferentes sentimentos, como a angústia e a solidão. “Tenho tido um retorno muito bacana dos homens, que revelam compreender melhor as mulheres depois do espetáculo”, comemora a atriz, que acabou de retornar do Chile, onde apresentou a peça. Para ela, o espetáculo está em um eterno processo de transformação, uma vez que a gestação não termina com o nascimento do filho. “Da gravidez até hoje estou na criação desse espetáculo, que ganha novas nuances com o tempo e as vivências com minha filha”, registra Carolina, que inicialmente havia feito apenas uma performance de cinco minutos, “Gravidanza”. “Carolina, de Lorca” Local: Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450). Datas: De quarta a domingo, às 20h.
Valor: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).