Contagem regressiva para comemorar os 70 anos do eterno Raul Seixas

Elemara Duarte - Hoje em Dia
04/01/2015 às 09:27.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:33

(Daniel Bianchini/Divulgação)

A foto que ilustra essa página foi feita em dezembro último, na capital mineira, durante o evento “Toca Raul”, que, como o nome indica, fez uma justa homenagem ao baiano Raul Seixas, com o bordão que o público sempre se sente no direito de proferir. Neste 2015, “o pai do rock” brasileiro segue em voga: em junho, serão lembrados os 70 anos de seu nascimento. Filme ficcional, musical, exposição. Este é o pacotão dedicado à memória do maluco beleza que é planejado por uma das três filhas dele, a DJ Vivi Seixas, 32, e pela mãe dela, Kika Seixas. Acompanhe, a seguir, trechos da conversa da caçula de Raulzito com o Hoje em Dia.    Como vê a recepção às músicas do seu pai nos dias atuais? É surpreendente o poder que a música dele tem até hoje. Em São Paulo, por exemplo, este mesmo festival reuniu 20 mil pessoas. Em Brasília, 22 mil. Em BH, mesmo com chuva, o pessoal não arredou o pé. É uma garotada, um pessoal de 20 e poucos anos, que nem viu meu pai tocar ao vivo.   Com que frequência as memórias dos fãs de Raul Seixas chegam até você? Não dá para calcular. (Risos) É onde eu vou. No início do ano, fiz uma tatuagem com o rosto do meu pai. Estava em Barcelona e um menino veio até mim. Nem me conhecia e elogiou, disse que também tinha um Raul Seixas tatuado. Ele era do Canadá, tinha morado no Brasil durante dois anos e levantou a blusa: tinha um Cristo e o meu pai. Eu mostrei a minha tatuagem de novo e disse: “É meu pai”. Ele riu, e, achando que era brincadeira minha, falou: “Ah, é meu pai também”. Sempre, a qualquer hora, tem alguma lembrança dele.   Qual é a lembrança mais terna e a mais louca que você tem do seu pai? A mais terna é a da barba. Minha mãe pegava a minha mão e colocava na barba dele para que ele se lembrasse de mim. As mais loucas eram as brincadeiras que ele fazia comigo. Tipo, o Capitão Gancho tinha um primo, o “Capitão Garfo”. Ele escondia um garfo na manga, pegava as minhas bonecas e as colocava no congelador (risos). Eu acordava no dia seguinte e as bonecas estavam congeladas. Eu ficava na porta do quarto para o “Capitão Garfo” não entrar.   Era um pai que era artista e que tinha um lado polêmico e instigador voltado para o público. Em algum momento foi difícil carregar esta herança? Sempre tem o lado positivo e o negativo. Artisticamente, por exemplo, quando escolhi ser DJ, me criticavam muito, pois eu não canto, não toco guitarra. Mas a minha onda é outra. Faço o que eu amo e meu pai sempre pregou isso. Procuro ser boa no que faço. Não é um fardo ser filha dele, é um orgulho, mas rola uma responsabilidade.   Você tem alguma ligação com o Paulo Coelho? Nenhuma. Tenho muita com o Marcelo Nova (que se apresentou no mesmo festival). É como se fosse um pai. Tenho muito carinho por ele. Ele me liga. A gente bate-papo. Sempre que estou com ele, lembro muito do meu pai.   Você se lembra dele no palco? Vagamente (quando Raul Seixas morreu, Vivi tinha 8 anos) Teve um show, acho que no Canecão, e eu chamando: “Papaaaaaai!”. Lembro-me do dia que ele morreu. Minha mãe estava no andar de baixo da casa. Ela ficou muito tempo no telefone com a minha avó. Ela subiu, e falou: “Papai Raul morreu”. Mesmo sendo criança, não me lembro das doideiras do meu pai, não me lembro dele bêbado. Mas eu já sabia, no fundo, no fundo que tinha alguma coisa estranha (O músico morreu em agosto de 1989, em decorrência de uma pancreatite aguda, provocada pelo consumo excessivo de álcool).   Como é a relação entre as três filhas de Raul Seixas? Foram três mulheres e três filhas, uma com cada mulher. Minha irmã mais velha, a Simone, é bióloga e a do meio, Scarlet, é dona de casa. Conheci minha irmã mais velha três anos atrás. Elas foram para os EUA muito novas, não falam português. Através do documentário sobre meu pai (“O Início, o Fim e o Meio”, de Walter Carvalho) é que minha irmã mais velha teve a curiosidade de me conhecer. Fui aos EUA visitá-la e foi amor à primeira vista.   Estão preparando mais alguma homenagem? Há um filme, uma ficção sobre a vida dele, um musical e uma exposição maravilhosa, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Mas tudo isso vai demorar, daqui a uns dois, três anos.   Quem vai fazer o papel do seu pai no filme? Ainda não sei. Mas não queria uma pessoa conhecida. Ninguém global.

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