Cortejo Companhia de Teatro faz as malas para ganhar o mundo

Miguel Anunciação - Do Hoje em Dia
03/01/2013 às 08:10.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:15

(Annelize Tozetto/Divulgação)

Ao deixar o Rio de Janeiro, após 12 anos investindo tudo no teatro, Rodrigo Portella considerava a capital carioca "pequena demais". Ambiente artisticamente saturado, refém do humor stand up e de comédias de mau gosto. Sete anos depois de reinstalado no interior fluminense, ele ainda não mudou de opinião. Nem viver em Três Rios, cidade fluminense na fronteira com Minas Gerais, impediu de o seu teatro ter chão e ganhar asas. Como muito poucos.

O Cortejo, seu grupo, vai muito bem, obrigado: neste momento, se articula para exibições nos Estados Unidos, no Rio de Janeiro e, tomara, em Belo Horizonte. Semana que vem, Rodrigo começa a dirigir uma montagem no Rio, com Caco Ciocler e Guida Viana no elenco. Além disso, tem escrito uma versão de "O Leitor", romance alemão que o cinema adaptou com imenso sucesso. E dá suporte à Cia Cascudo, que leva à Alemanha o espetáculo "O Cego e o Louco", que ele dirigiu em 2011.

Formado em 2010, por profissionais de Três Rios e Juiz de Fora, 64 km distantes, o Cortejo jamais se exibiu em BH. Mas deseja, é claro, como todo artista do interior. Fã do grupo Galpão, Rodrigo sonha trazer "Uma História Oficial", única produção do Cortejo. Os acordos para isso já começaram, talvez o vejamos por aqui este ano.

A peça visita o universo de Gabriel García Marquez, mais especialmente a fábula de "Cândida Erêndira e sua avó Desalmada", com admiráveis resultados. Foi considerada a melhor do 3º Festival Nacional de Ribeirão Preto. E volta ao Rio (onde já esteve em 2012) para ocupar o Teatro Laura Alvim, de fevereiro a abril. No fim de abril, embarca para os Estados Unidos, para apresentações em Nova York, Berkley e São Francisco, os quatro atores (Bruna Portella, Lívia Gomes, Marcos Bavuso e Tairone Vale) falando em inglês o impressionante texto da peça.

Celeiro de gente

"Optei por não morar no Rio, por ter uma companhia teatral no interior, então preciso fazer investimentos, buscar outros caminhos. Não posso ficar sentado, esperando pautas", frisa Rodrigo, que se diz destinado a ser o que é por nascer onde nasceu.

Apesar de ter menos de 80 mil habitantes, segundo o Censo de 2010, sua cidade seria "um celeiro de artistas e pessoas criativas". Teria um teatro de 324 lugares, superbem equipado, erguido e mantido pela comunidade. E núcleos de teatro, dança e música há mais de 70 anos. Quando Três Rios ainda não era município.

Novo trabalho vai ao Fringe, do Festival de Curitiba, em março

Diplomado em direção pela UniRio, onde foi saciar sua busca por ir bem mais a fundo nas técnicas de iluminação, contraregragem e cenografia, interesses que ele já exercitava desde Três Rios, Rodrigo Portella viveu 12 anos na Cidade Maravilhosa.

Durante seis anos, dirigiu um grupo de nove amigos e conterrâneos - entre eles, Vinícius Arneiro, um dos mais notados destaques da atual cena teatral carioca.

Caio e Noll

Com eles montou cinco peças, duas delas repercutiram mais que as outras, circularam em festivais, ganharam alguns prêmios: "A Fábula da Casa de Mulheres sem Homens", demão de tintas bem brasileiras sobre a Bernarda Alba de Federico García Lorca; e "O que você Mentir eu Acredito", mescla de fragmentos de obras de Caio Fernando Abreu e João Gilberto Noll, gaúchos de primeira linha.

A convite do Sesi carioca, "O que Você Mentir" será remontada agora, com Caco Ciocler, Guida Viana, Isabela Luz e o pernambucano Armando Babaioff. A previsão é ser mantida em cartaz entre maio e junho e depois circular por unidades do Sesi do Estado do Rio.

Indicação ao prêmio

Não é o primeiro trabalho que realiza com o hoje global Caco Ciocler: enquanto ainda vivia no Rio, Rodrigo iluminou "Na Solidão nos Campos de Algodão", que Antônio Guedes dirigiu, com Caco e Babaioff no elenco. A luz recebeu indicação ao prêmio dos produtores.

Artista de muitos talentos, Rodrigo fecha o texto de "Antes da Curva", inspirado em "O Leitor". De cena curta premiada em muitos festivais do gênero, será levada ao Fringe como nova montagem do Cortejo. Será sua segunda experiência na mostra paralela do Festival de Curitiba: ano passado esteve lá com "Uma História Oficial", mas "passou em brancas nuvens". Pretende contar com sorte bem melhor este ano.

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