Eles inevitavelmente crescem e, na maioria dos casos, não há mais o voltar para a casa diário. Que consolo, então, senão a alegria de vê-los alçar grandes voos? Que sigam alto, porém, que nunca se esqueçam da canção.

Melodias feitas de pais para filhos; assim, no plural, pois são várias as homenagens e não há como falar de amor incondicional no singular. Neste Dia dos Pais, reverências também àqueles, que, muitas vezes, antes mesmo de nascer, serviram de inspiração para singelas composições.

No caso do saxofonista mineiro Gil Costa, 31 anos, são dois os rebentos que o fizeram querer compor: Davi, de 4 anos, e Matheus, de 2. “Quando a minha esposa engravidou pela primeira vez, pensei que não teria tempo para estudar. Porém, ele me inspirou muito e comecei a compor mais”, conta.

Com a chegada do mais novo, a vontade se intensificou e acabou resultando no CD “Ticonino”, de jazz – o título é o apelido dado pela mãe ao mais velho. “Tivemos noites turbulentas porque o Matheus chorava muito e o Davi tinha febre sempre que nascia um dente. Por isto, fiz a música ‘Noite do Dente’, que é mais tensa”, exemplifica. Mas há sons mais calmos, como “Balanço” e “Agum” (a primeira palavra pronunciada por Davi).

Bons frutos

Instrumental, o álbum – que, vale ressaltar, não é infantil – possui oito faixas, todas de autoria de Costa e dedicadas às crias. Ele só será lançado no dia 3/11 na Fundação Educação Artística (rua Gonçalves Dias, 320), mas já foi premiado. “Ganhei o Prêmio BDMG Instrumental neste ano com estas músicas. E pensar que, no início, estava desanimado porque achava que não poderia mais me dedicar à carreira”.

Em dose dupla

Há mais de 20 anos, quando o músico Frederico Heliodoro tinha 7 anos, seu pai, o cantor Affonsinho, compôs uma música para o filho. “Sempre tocava violão para ele dormir e, assim, foi pintando a ideia de fazer a música”, lembra. Para os dois, o costume era um ritual e, de tanto repeti-lo, surgiu a canção batizada com o nome do filho.

Décadas mais tarde, foi a vez da pequena Laura, hoje com 7 anos, receber a mesma gratificação. “Na letra de ‘Laura-rá’ coloquei uma frase bonita que a minha sogra um dia falou sobre pedir e acreditar”, destaca.

Os próximos shows de Affonsinho serão, nos dias 11 e 12 deste mês, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046). No repertório, claro, há de ter um bocado da Laurinha e também do Fred.

Beto Guedes dedicou músicas a Gabriel e Ian

Poxa, eu choro toda vez que a escuto”, diz Gabriel. Homônima ao seu nome, foi para ele que Beto Guedes dedicou a canção feita em 1978. Gabriel explica que Beto encomendou a letra para Ronaldo Bastos (padrinho de seu irmão Ian), especialmente para o seu nascimento. Já o padrinho de Gabriel, que é simplesmente um dos maiores ícones da MPB, Milton Nascimento, participou com uma vocalise (melodia vocal sem palavras).

"Acho a música uma valsa muito singela. Foi algo feito com muito amor, numa época em que as coisas eram muito diferentes de hoje. Naquela época, havia uma magia que pairava no ar”, fala o homenageado.

Gabriel diz ainda que o canto serviu de inspiração para muitos pais registrarem os nomes dos filhos. “Imagina que ‘responsa’ a da pessoa fazer uma música que toca o coração e a outra pessoa se identificar a ponto de colocar o nome do filho em homenagem. É demais, né?”.

Gabriel, que herdou do pai o talento para a música, também prestou homenagens às suas filhas. “Os nomes são homônimos ao nome delas. A da Julia (13 anos) fiz antes de ela nascer e o Milton canta junto com a Marina Machado. Já a da Lira (12 anos) o Toninho (Horta) toca a guitarra. Motivos de honra para mim”, destaca.

‘Amor de Filho’

Beto Guedes também gravou uma canção para o outro filho, Ian, de 27 anos. O título, “Amor de Filho”, não poderia ser mais apropriado. “Fiquei surpreso e emocionado com a homenagem”, diz Ian.

Ele conta que a ideia de fazer a música surgiu de Milton Nascimento, o autor da letra. “Foi porque o meu pai falava de mim para o Milton de uma forma muito carinhosa”, explica. “E o engraçado é que foi uma inversão porque o meu padrinho fez uma música para o Gabriel e o padrinho do Gabriel fez uma música para mim”.

Filhos de Rubinho do Vale também receberam homenagens

Tão doce quanto as outras composições, a que Rubinho do Vale fez – “Davi e a Luz da Manhã” – emocionou a muitos pais. “A música fala da relação bonita entre pai e filho, de uma relação que renasce todo dia como a luz da manhã. Ela toca as pessoas, como uma mãe que vi chorando uma vez ao ouvi-la”, recorda Rubinho.

Outra história que o músico guardou na lembrança foi de uma mãe que enfrentou dificuldades na hora do parto. O garoto, nascido nesta situação, também recebeu o nome de Davi. “Ela me localizou e contou que sempre colocava esta música para o filho ouvir”, diz.

Para a filha

Naiara, filha de Rubinho, hoje com 32 anos, também tem canção própria. “Gravei quando ela tinha uns dois anos de idade. A música é do João Evangelista e do Paulinho Pedra Azul, igualmente bonita”, fala o pai coruja.

E MAIS

Orlando Morais canta música que fez para Antônia em seu aniversário

“Rebenta a filha que fiz outro dia ao anoitecer. Antes insônia, agora ‘Antônia’ vem nos conhecer”. O trecho foi tirado de “Antônia”, de Orlando Morais. Ele escreveu a canção em homenagem à filha, que fez aniversário na última sexta-feira. No Facebook, Orlando postou um vídeo no qual canta a música e parabeniza a filha. Em resposta, Antônia postou: “Te amo!! Obrigada mil vezes. Você é tudo pra mim”. A moça é fruto da união do músico com a atriz Glória Pires e, recentemente, lançou o seu primeiro clipe, “Fuel”.

‘Davilicença’, de Moraes Moreira, é homenagem ao filho Davi Moraes

Em 1977, Moraes Moreira lançava o segundo álbum da carreira, “Cara e Coração”, que fez logo depois de sair do grupo Novos Baianos. O disco, que tem dez músicas, possui uma homenagem ao seu filho Davi, já que a intitulou de “Davilicença”. A canção foi escrita por Moreira em parceira com Armadinho. O homenageado, que hoje tem 42 anos, também seguiu a mesma carreira do pai. Os dois, inclusive, lançaram juntos, neste ano, o CD “Nossa Parceira”, com dez faixas.

Nando Reis intitula música que fez para a filha com nome de flor

Em 2006, Nando Reis gravou a canção “Espatódea” em homenagem à filha Zoé. Num vídeo de 2009, postado na sua página oficial do Facebook, Nando diz que o título da música foi escolhido devido às flores da árvore de mesmo nome. As flores são alaranjadas, mesma cor dos cabelos de pai e filha. “É o símbolo que eu escolhi para dizer para a Zoé o quanto ela é a flor da minha vida”. Na letra, o músico diz que o mundo ficou melhor desde que ela chegou. “E explicou o mundo pra mim”, diz a canção.