Críticas a Putin do primeiro escritor russo na Flip

Leida Reis - Enviada especial
31/07/2014 às 20:28.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:36

(Flip/Divulgação)

PARATY - O primeiro autor russo a participar da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Vladimir Sorókin, tentou desvendar para o Brasil a produção contemporânea de um país cujo apogeu literário se deu no século 19. A razão de as obras de uma nação que teve León Tolstói e Fiodor Dostoievski não terem ultrapassado as fronteiras, durante décadas, foi a imposição de temas amenos e mitológicos aos escritores pelo regime socialista. Mas eles “terminaram mal”, definiu o escritor, citando casos de suicídio e mortes em prisões, e hoje é impossível não ler suas obras “sem rir”.   Crítico da política de Vladimr Putin, ele publicou na França e na Alemanha. Após participar da mesa “Os Possessos”, com a norte-americana de origem turca Elif Batuman, lançou a hilária peça teatral “Dostoievski-trip” em que o vício em leitura tem o mesmo tratamento dado à dependência de drogas. Sete pessoas cansadas dos efeitos das doses de Kafka, Faulkner, Thomas Mann, Tchékhov e outros, recebem de um traficante uma encomenda especial: comprimidos de Dostoievski. Acabam entrando no romance “O Idiota” e viram personagens.    Citando Otero, Sorókin definiu a literatura como um tiro. “Você não sente o tiro, não o escuta, a bala apenas te atinge”.  Sua produção nasceu na convivência de um grupo underground que usava o fazer literário como expressão política, na década de 70, mas não ia para a rua como os resistentes de hoje. “Esse defunto que é o totalitarismo eu não gostaria de ver de novo (na Rússia)”, disse. E numa frase sintetizou seu pensamento sobre a influência política na produção literária: “O Putin um dia vai, o romance fica”. Foi aplaudido pela plateia e a frase arrancou elogio da colega de mesa.    Vladimir Sorókin, que escreve também roteiros de cinema, destacou o modo como Dostoievski escrevia, “muito rápido porque precisava de dinheiro” para justificar a leitura difícil, mas “agradável” do russo que admira. “Lê-lo é uma carnificina psicológica, ele faz do leitor carne moída; por isso estamos agradecidos a eles, é o único que explicou a psicologia”. A vida na Rússia, disse, é amarga, e isso é combatido com duas coisas: o humor e a vodca.    Elif Batuman, estudiosa da literatura russa e apaixonada por Tolstói, lembrou a curiosidade que sentia pela União Soviética na época da Guerra Fria. “Eu cresci num país que é alegre, assim como o Brasil que também é alegre, temos essa visão dos Estados Unidos". Como sentia atração pelo diferente, enveredou-se pelo estudo dos russos e lançou “Os Possessos”, em que apresenta o panteão da literatura da Rússia sob o ponto de vista de uma estudante da Universidade de Stanford.    Para não deixar Millôr Fernandes de fora da conversa, uma vez que ele é o homenageado da Flip e referências à sua obra estão espalhadas pelo centro histórico de Paraty, o mediador da mesa, Bruno Gomide, citou uma frase sua: “O capitalismo é a exploração do homem pelo homem e o comunismo é exatamente o contrário”.   

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