A torcida do Cruzeiro tem boas razões para comemorar, pelo menos fora de campo. Se o time celeste não anda nada bem no Campeonato Brasileiro, ocupando a zona de rebaixamento, um filme que evoca a paixão dos cruzeirenses acaba de levar o prêmio de melhor curta da edição mineira do Cinefoot, festival dedicado à exibição de obras sobre futebol, encerrado no domingo. Se já não bastasse o caneco no certame local, “Azul Escuro”, realizado pelo coletivo 1921 e dirigido por Gustavo Nolasco, já tem uma disputa internacional pela frente: no fim de outubro, será um dos representantes brasileiros no Sports Movie & TV, festival sediado em Milão, na Itália, organizado pela Federação Internacional de Cinema e Televisão Esportiva (FICTS). Nolasco vibra com a possibilidade de levar a história de Seu Lúcio – um cruzeirense cego que mora em Novo Airão, no meio da Floresta Amazônica, tendo montado um santuário sobre o clube no hostel que administra – para o público do exterior. Melhor ainda: mostrar o filme para o país de origem da comunidade que fundou o Cruzeiro como o nome Palestra Itália. "Azul Escuro” será apresentado no festival ao lado de outra produção sobre o Cruzeiro, “Eterno, Capítulo Incontestável”, primeiro filme do coletivo 1921, integrado por Leo Souza, Bruno Mateus e Guilherme Guimarães, este último repórter setorista do Cruzeiro no Hoje em Dia. “A coisa que a gente mais preza é contar a história dos torcedores, pois é o maior patrimônio que o Cruzeiro tem”, registra Nolasco.
Seu Lúcio lamenta não poder ter estado em Belo Horizonte para levantar a taça do Cinefoot pelo filme, uma experiência que ele define como “inacreditável”. “Nunca imaginei que chegaria a este ponto. Quando falaram do projeto, eu pensei que seria uma coisa banal. Não levei muito a sério. Agora, com tudo o que aconteceu, esse filmes assumiu uma grande importância em minha vida”, assinala.
Seu Lúcio passou por vários orfanatos em Minas Gerais até que, ao completar 18 anos, resolveu investir na carreira de cozinheiro e se mudar para Manaus. E por lá ficou, sem deixar a paixão clubística de lado. “Acabou se tornando um hobby para mim quando perdi a visão. Para não ficar depressivo, passei a coletar dados na internet e hoje tenho registrado no computador todos os jogos do Cruzeiro”.