No YouTube, são mais de 6,5 milhões de visualizações em apenas 13 vídeos publicados no canal. Só a música “Esquimó” bateu mais de um milhão de views em apenas três semanas. Emicida aprovou o trabalho e mandou o recado pelo Twitter: “é rock’n’roll por excelência”. O som, no entanto, é de rap. Com o recém-lançado álbum de estreia “Heresia”, o rapper belo-horizontino Djonga, de 22 anos, parece que veio para ficar.
Ao todo, o trabalho apresenta 10 faixas autorais. “É um disco muito importante para mim. É um grande passo. Há ideias fundamentadas ali”, diz o artista. A começar do título do trabalho, Djonga já mostra o que prega. “Tem tanto a proposta de transmitir empoderamento quanto de desafiar as coisas impostas à sociedade. É uma tentativa de romper com os padrões, por isso digo que estou sendo um herege”, afirma.
No que diz respeito à questão do empoderamento, o rapper traz mensagens especialmente direcionadas ao negro. Em “O Mundo É Nosso”, por exemplo, que conta com a participação do carioca BK, Djonga diz: “sou da sua raça, mano/É a nossa vitória!/Já foram farsa, vamo contar nossa história! Quilombos, favelas/No futuro, seremos ‘reis’/Charles/Seremos a negra mais linda desse baile, charme! A negra velha mais sábia”.
“Apesar de termos construído esse país, ainda somos um povo que morre e sofre. É um povo com vários problemas de autoestima, que não se reconhece politicamente e minha maior inspiração é essa turma. Quero passar autoestima para os pretos. Quero que a menina saiba que ela pode ficar com o cabelo do jeito que quiser”, diz.
O disco faz ainda uma alusão à emblemática capa de “Clube da Esquina”, lançado em 1972, na qual aparecem dois garotos sentados num matagal. No trabalho de Djonga, o próprio rapper aparece duas vezes na imagem. “Acho muito louca a relevância que o Clube da Esquina teve e tem para a cultura brasileira. É uma referência. Sou muito fã. Acho que é uma das coisas mais grandiosas da cultura que já existiu em nosso país”, enaltece. “Queria conseguir fazer participação com o Milton Nascimento”, almeja.
Referências
Além do movimento artístico mineiro, Djonga se diz influenciado pelo funk e pelo samba. “A cultura negra é forte na minha família, então, o samba sempre estava presente nas festas”, lembra ele, que cresceu no bairro Santa Amélia, onde morou até uns 10 anos de idade, justamente na época em que começou a apurar o gosto musical. “Quando tomei mais consciência do que realmente gostava em relação à música, a que mais me identifiquei por causa da minha geração foi o funk brasileiro. O funk sempre me falou da minha vivência”, justifica.
O rap só veio mais tarde e foi “apresentado” a Djonga por uma ex namorada. “Eu conhecia os mais clássicos, como os Racionais. Mas uma rapaziada que gostava (do som) também me mostrou outras coisas, como o Criolo, Emicida... Conheci uma nova forma de fazer rap”, conta.
Entre as referências que tem levado para a carreira, Djonga cita uma lista que vai de Marcelo D2 a Noel Rosa e do grupo Revelação a Cazuza. “A gente não cria nada. São as influências que faz a gente construir as coisas”, afirma.
Na correria e fazendo até mais de dois shows por fim de semana, Djonga não se diz surpreso com os resultados. “Nunca sabemos como as coisas vão acontecer, mas não te falo que não esperava, porque a gente trabalha para isso. Agora, o que quero é atingir mais pessoas com minha música”.