Do morador de rua à senhora do Sacolão: jovens artistas buscam seu público

César Augusto Alves
cpaulo@hojeemdia.com.br
19/06/2016 às 15:23.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:57

(Lucas Prates)

Foi-se o tempo em que consumir arte era algo para os muito ricos e um selecionado grupo que “entendia” do mercado. Antes restrito, este mercado se democratizou. A escola clássica se rompe, sem perder espaço, e cede lugar à produção de jovens artistas. Em BH, alguns artistas têm trabalhado para construir um público consumidor. Mais para tornar possível a cena independente do que em busca de retorno financeiro.

“É preciso aprofundar a reflexão sobre arte e formar um público sem abrir mão da expressividade e da reflexão sobre os possíveis sentidos além do financeiro”, afirma Binho Barreto, um dos artistas expoentes da capital. 

Nos últimos anos a cena independente se ampliou usando as ruas como galerias. “A discussão que cresce em torno da ocupação dos espaços públicos impulsionou a presença maior da arte pela cidade. De forma mais direta, atinge muita gente todos os dias”, diz Eduardo Fonseca, artista plástico prestes a estrear uma exposição em Portugal.

Além de gravuras e telas, Barreto também aposta nas ruas como um espaço para ampliar a presença de seu trabalho. “A arte democratizou pela quantidade de artistas e por fugir de uma perspectiva eurocêntrica. Quando faço graffiti, o meu público alvo é do morador de rua à senhora idosa que vai ao sacolão”. 

Quem compra

Embora tenha se democratizado, comprar objetos de arte ainda não é algo tão barato, mas há boas opções para quem não dispõe de uma fortuna. As obras de Binho Barreto, por exemplo, variam de R$ 200 a R$ 4.000. 

“Eu gosto do belo, de cores, do diferente. Minha casa é repleta de objetos de arte, mas não compro só como investimento, isso é consequência. Compro porque gosto. O quadro mais caro que eu comprei foi do Nestor Jr, na faixa de R$ 3 mil”, conta Ale Faria, designer apaixonada por obras de arte.

Nesta perspectiva, o público jovem que hoje investe e compra objetos de arte, principalmente neste “novo” cenário, é grande. “Me procuram pelo que tenho a dizer. A arte oferece algo diferente, tende a ser aberta e dialogar. Essa é uma demanda grande para a juventude”, avalia Barreto. Já na avaliação de Fonseca, o jovem tende mais a apreciar do que comprar. “Costumam curtir os trabalhos mas preferem não investir uma grana que pode faltar depois”.Lucas Prates / Hoje em Dia

Ale Faria admira duas telas de Binho Barreto em sua sala. Sua casa é praticamente uma galeria, com intervenções nas paredes e objetos por todo lado

Foto autoral

Queimar as fotografias não vendidas em um leilão pode soar absurdo ou apelativo, mas essa é a proposta do Coletivo Erro99 em seus “queimões” (sim, é um trocadilho). As fotos são queimadas quando ninguém dá o lance mínimo de R$ 5. O coletivo surgiu com o objetivo de movimentar o circuito de festivais de fotografia e para ampliar o acesso ao trabalho dos fotógrafos. “Nossa intenção desde o início era criar ações convidativas, populares e descontraídas, sem deixar de refletir sobre a fotografia contemporânea”, avalia Daniel Iglesias, um dos integrantes.

Sempre inovando, o propósito hoje é fomentar o mercado e criar um público consumidor. Para tanto, são diversas as ações propostas pelo grupo. 

“Sempre buscamos atingir e dialogar com novos públicos e expandir o alcance da fotografia autoral. Isso através de ações com formato popular, ausência de curadoria e taxa de inscrição, preços acessíveis (que fazem com que muitas pessoas comprem sua primeira obra de arte fotográfica), espaços onde realizamos, que são sempre públicos, como praças e ruas, a prática de vincular nossas ações a diferentes causas, e o nosso trabalho nas redes sociais, que leva a fotografia autoral a mais pessoas”, descreve Iglesias.

Empreendedorismo

O sucesso alcançado pelas ações do Erro99 mostra que arte e empreendedorismo são duas coisas que devem, sim, se misturar – um espírito que cresce somente agora com os jovens artistas. “Esse é um problema não apenas dos artistas, mas da sociedade em que, apesar de consumir arte diariamente, não consegue atribuir-lhe valor comercial e social. Com o fechamento do MinC, o discurso de que artista é vagabundo e que arte não é uma forma de trabalho veio à tona com muita força”, lembra Iglesias. 

Além deste conceito de arte muitas vezes deturpado na sociedade, Iglesias lembra como a arte é uma constante que só tem visibilidade quando ganha status. “Os jovens de periferia sempre consumiram grafite e arte de rua, muito antes do “mercado da arte” levá-los para exposições e galerias”. 

Conheça

Belo Horizonte tem um mercado de arte que ainda engatinha, mas já conquista espaço. O público jovem, muito citado pelos personagens desta matéria, é a “bola da vez”. Novas galerias surgem com outra proposta, de olho neste pessoal que não gasta muito em cada peça que compra, mas que se interessa pela produção atual. Os jovens artistas também despertam o interesse de galerias e lojas do ramo, ao trazer frescor para o mercado e para dentro das lojas, o que antes era apenas uma arte de rua e para a rua.

Confira abaixo algumas galerias e lojas da capital:

Urban Arts
Endereço: Rua Sergipe, 1171 – Savassi 
Telefone: (31) 2555-4677

Galeria Quartoamado
Endereço: Rua Antônio de Albuquerque, 384 – Savassi
Telefone: (31) 2526-9931

Galeria Rogerio Fernandes
Endereço: Rua Antônio de Albuquerque, 749 – Savassi
Telefone: (31) 2515-0092

Galeria: AM 
Endereço: Rua do Ouro, 136 – Serra 
Telefone: (31) 3223-4209

Mini Galeria
Endereço: Rua do Ouro, 1381 – Serra
Telefone: (31) 98531-8140

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