(INQUIETAÇÃO FILMES/DIVULGAÇÃO)
João Silva é o oposto do músico intelectualizado que nos acostumamos a ver. Nessa onda recente de documentários musicais, alguns filmes buscam encontrar a raiz de um pensamento que desembocaria no auge artístico. Em cartaz no Belas Artes, “Danado de Bom” evidencia um outro lado, instintivo e empírico, do compositor pernambucano.
Autor de mais de três mil composições, parceiro de Luiz Gonzaga, João Silva é entrevistado num momento “de volta” à terra natal, após passar mais de 50 anos no Rio de Janeiro, quando fala justamente da necessidade de reencontrar as fontes de inspiração, na sua vivência em Arcoverde. O filme vai em busca do sertanista, do autodidata homem do povo.
Violência
Nessa maneira simples como ele relata sua trajetória, entremeada por causos curiosos, encontramos a pedra bruta, a engenhosidade de um homem que soube enxergar poesia onde ninguém mais via. Como na hora em que encontra uma ex-namorada, que o olha e sai sem se despedir, não dando o braço a torcer, que virou um dos grandes sucessos de Gonzagão (Sem se despedir de Mim).
Dirigido pela estreante Deby Brennand, “Danado de Bom” tem, entre os grandes momentos, a discussão entre as formas culta e coloquial, entre bagagem literária e vivência. A certa altura, João Silva enfatiza que sua expressão peculiar é uma maneira de se defender da violência do mundo. Faz sentido numa sociedade alimentada pelas aparências.
Apesar de curto (cerca de 70 minutos), o documentário dá espaço generoso às músicas, interpretadas por artistas como Lenine, Zeca Baleiro, Dominguinhos e Elba Ramalho, além de Gonzagão, como forma de contar a história do compositor, com as letras sendo destacadas na tela e nos fazendo mergulhar no universo de João Silva.
Serviço:
“Danado de Bom” (2015). Direção: Deby Brennand. Em cartaz no Belas Artes.