Drama familiar é tema de estreias no cinema nesta sexta-feira

Hoje em Dia
27/12/2013 às 06:43.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:01
 (Pais e Filhos)

(Pais e Filhos)

É uma coincidência, mas não deixa de ser interessante e digna de nota. Três dos filmes que entram em cartaz hoje trazem histórias que giram em torno de famílias. Um arrasa-quarteirão é “Até Que a Sorte Nos Separe”, que chega ao segundo filme da franquia made in Brasil com algumas novidades: sai Danielle Winits do elenco original e entra em cena a atriz Camila Morgado.

A sequência do filme mais visto de 2012 também traz outros chamarizes: a participação do lutador Anderson Silva e do veterano comediante Jerry Lewis – vale lembrar que parte da ação se desloca para os Estados Unidos, mais precisamente, para Las Vegas. É na cidade da jogatina que o personagem de Leandro Hassum volta a perder dinheiro – bem, pelo jeito, ele não aprende nunca mesmo (http://www.hojeemdia.com.br/m-blogs/no-escurinho-do-cinema-1.100646/at%C3%A9-que-a-sorte-nos-separe-2-ou-como-ficar-pobre-duas-vezes-com-humor-fraco-1.204710).

Outro destaque é “Álbum de Família”, produção norte-americana que deve emplacar alguma das protagonistas na lista das atrizes concorrentes ao Oscar. Aqui, Julia Roberts é uma das filhas da personagem de Meryl Streep – e ambas se esforçam (e muito) para arrancar aplausos pela interpretação.

Mas a estreia que deve arrancar mais elogios da crítica especializada é o japonês “Pais e Filhos”, filme que foi bem em todos os festivais de que participou. Ganhou prêmios (no plural) de público. No Japão, o que contou pontos foi o ator que faz o pai: Masaharu Fukuyama é um astro. Em Cannes, conquistou Steven Spielberg, que fará a sua versão.

O significado da paternidade em questão

Quando os pais de Keita, de 6 anos, o matriculam na escola, um teste sanguíneo obrigatório indica que o menino não pode ser filho biológico do casal que o cria. Um exame de DNA confirma a suspeita e uma rápida investigação ratifica a hipótese mais provável: houve uma troca de bebês na maternidade. E agora, o que fazer?

A partir de um ponto de partida muito explorado, Hirozaku Kore-eda realiza uma crônica familiar pautada pela sutileza e pela excelência da construção narrativa. Lá onde tantos filmes escorregam em clichês, o diretor traça um caminho que evita armadilhas. Mas o longa, felizmente, também escapa da frieza excessiva de tantos diretores que, com medo do sentimentalismo, se refugiam na segurança da razão.

O principal acerto da direção de Kore-eda está na escolha de um ponto de vista definido – algo que anda em falta nos filmes ultimamente.

A trama de “Pais e Filhos” se desenrola a partir do impacto que a notícia bombástica dos bebês trocados tem sobre todos os envolvidos, mas se foca, sobretudo, na onda de choques que abala o arquiteto Ryota Nonomiya (um trabalho brilhante de Masaharu Fukuyama).

Reação

Ryota trabalha longas horas e se orgulha de ser bom provedor. Mora em um belo apartamento de zona nobre de Tóquio. É terno, mas não consegue evitar certa frieza em suas relações familiares. Ele se dá conta disso ao conhecer Yudai Saiki, homem que cria o seu filho biológico. Saiki é dono de um pequeno comércio em um bairro afastado de Tóquio e, para horror de Ryota, tem como lema “não faça hoje aquilo que você pode fazer amanhã”.

Pela orientação dos médicos e dos advogados, os casais são aconselhados a destrocar os bebês. Durante a adaptação, os meninos passam os fins de semana nas casas dos pais biológicos, antes de trocarem de lar definitivamente. A reação imediata de Ryota não é nem um pouco nobre: cogita entrar com um processo para ficar com os dois meninos.

Aguda observação da sociedade japonesa

Quando o personagem percebe que o caminho é legalmente inviável, a crise bate forte, e ele passa a se questionar sobre os significados da paternidade, os investimentos afetivos e sobre como isso tudo está relacionado ao estilo de vida que ele faz questão de sustentar.

Nesse ponto, como em outro filme de Kore-eda (“Ninguém Pode Saber”, 2004), “Pais e Filhos” transcende os limites da crônica para se tornar uma aguda observação da sociedade japonesa.

Outro trunfo de “Pais e Filhos” está no trabalho de direção das crianças. Nas sequências em que elas têm um papel preponderante, a câmera fica à sua altura, e o movimento é conduzido por elas.

Esse detalhe, aliás, deve explicar o encanto de Steven Spielberg pelo filme, presidente do corpo de jurados do Festival Internacional de Cinema de Cannes 2013, onde “Pais e Filhos” recebeu, justamente, o Prêmio do Júri.

Pouco depois do fim do festival, o diretor de “E.T.” anunciou que havia comprado os direitos de refilmagem.

Essa é a triste lógica de cinema: um belo filme em japonês está condenado a ter circulação bem mais restrita do que sua cópia em inglês. (Pedro Butcher/Folhapress).

Atuações exageradas prejudicam o drama "Álbum de Família"

SÃO PAULO – Com o passar dos anos, a Academia de Hollywood criou uma maldição chamada “clipe do Oscar”. Em todas as cerimônias, desde meados dos anos 1980, surgem clipes que comprovam a qualidade de interpretação dos indicados a melhor ator ou atriz.

Tal maldição recai sobre “Álbum de Família”, segundo longa-metragem para cinema do diretor John Wells (o primeiro, “A Grande Virada”, tem alguns tímidos defensores).

Meryl Streep, espécie de concorrente automática a Oscar de atriz, e Julia Roberts, que adoraria ocupar tal posição, duelam o tempo todo para ver quem faz a interpretação mais talhada para o clipe do Oscar. Não precisaria dizer que é o espectador que perde com a disputa, certo? Já é um clichê da crítica.

O filme foi escrito por Tracy Letts, roteirista de “Killer Joe” (2011), bomba travestida de subversão pelo outrora bom diretor William Friedkin.

Letts carrega nas tintas ao explorar a lavagem de roupa suja entre parentes, na linha do dinamarquês “Festa de Família” (1998), longa de Thomas Vinterberg que inaugurou o movimento Dogma.

Meryl Streep é a matriarca que recebe familiares para o funeral do marido que acaba de se suicidar. Mesmo sob o risco de ficar sozinha, ela não poupa julgamentos a todos os familiares, provocando forte tensão na casa.

Alguns podres são revelados, como é praxe nesse tipo de filme alcoviteiro, e os atores terão sua oportunidade de brilhar, no estágio duvidoso da superin-terpretação.

Algo que, dada a sutileza paquidérmica da direção, faria Marlon Brando (outro que por vezes exagerava) corar de vergonha no além.

O primo europeu “Festa de Família” já não é grande coisa; um filme que só impressiona os impressionáveis. Mas é pura fineza se comparado a “Álbum de Família”.

 

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