(Ricardo Bastos/Hoje em Dia)
Feliz Ano Novo, caro leitor! Uai, mas já é dia 8 de fevereiro. É verdade, mas estamos falando do Ano-Novo Chinês! Enquanto a maioria dos brasileiros pula Carnaval, vários chineses e descendentes radicados aqui celebram a chegada do ano do macaco, a partir desta segunda-feira (8).
Diferentemente do ocidental, o calendário chinês considera as fases da lua. Por isso, o Ano-Novo sempre cai em uma data diferente. Cada ano é regido por um dos 12 animais do horóscopo chinês. Este será pelo macaco.
Na China, a comemoração dura 15 dias. Em Minas, é mais enxuta, mas com mesma boa energia. Um jantarzinho ou almoço com comidas típicas, amigos e familiares, incensos, e uma oração para os antepassados e para o mundo... Este “kit” de tradições está de bom tamanho para estes imigrantes.
Simpatia nas agulhas
“Rezo a Deus que ajude o mundo”, anseia a simpática acupunturista e especialista em medicina chinesa Chin Du, que nasceu em Pequim. Aos 66 anos, há quase 30 no Brasil, ela se diz feliz por viver no país. “Brasileiro tem coração bom, coração grande. O chinês para ajudar tem que olhar se convém ou não. Já o brasileiro vai e ajuda”.
Chin Du trabalhava na Cruz Vermelha e conheceu um brasileiro com quem se casou e veio para cá. Hoje, mesmo viúva, ela vai celebrar a data com os amigos. “Será a festa mais bonita. Com muita comida”. E a doutora tem desejos para o ano do macaco. “Trabalhar mais forte. Aprender mais forte”, diz, cheia de simpatia, e sem esconder o sotaque.
Chin Du comanda a clínica de Medicina Chinesa Tai Chi, no bairro Santo Antônio, região Centro-Sul de BH. As funcionárias brasileiras, Jamila e Ana, também vão celebrar a data. “A expectativa dela é este Ano-Novo chinês”.
Para comemorar em família
O Ano-Novo Chinês quase sempre coincide com o Carnaval. E esse é o motivo pelo qual a empresária Kiu Chan, radicada no Brasil desde muito menina, mais uma vez não deve abrir o restaurante Ni Hao, em Belo Horizonte, com alguma programação típica. Em chinês, Ni Hao quer dizer "Oi, tudo bem".
Kiu Chan diz que a comemoração será apenas no aconchego do lar, com um jantar ao lado de amigos – brasileiros e chineses. No cardápio, avisa, macarrão de arroz e um leitão assado – que é típico em Minas, mas também na China.
“Antes disso, acendemos um incenso e fazemos uma oração em família, pelos patriarcas e pelas pessoas que já se foram”, conta. No escritório do restaurante onde é uma das sócias, ela, que nasceu em Hong Kong, guarda um suporte com base de arroz para segurar os incensos.
Kiu diz que até gosta de Carnaval e que se estiver em um baile, dança um pouco, mas que a opção melhor para o período é ficar em casa e assistir TV.
KIU CHAN – Incenso para atrair boas energias para o novo ano que começa nesta segunda-feira (8). Foto: Ricardo Bastos
Costumes
No Brasil, costuma-se celebrar o Natal em família e o Réveillon, junto com os amigos. Porém, o costume entre os chineses é um pouco diferente. De São Paulo, a presidente da escola de mandarim Nin Hao, Sumara Lorusso explica esta tradição no encontro da virada.
“A véspera e o dia do Ano-Novo chinês são comemorados em família em um momento de reencontro e agradecimento. Para se ter uma ideia, durante todo o feriado mais de 300 milhões de pessoas viajam pelo país para fazer essas visitas”, comenta.
Ela diz que este é considerado o maior movimento migratório do planeta. “É em honra do céu e da terra, dos deuses da família e dos antepassados, considerados responsáveis por lançar as bases para a fortuna e a glória da família”.
Rituais
Também na véspera do Ano-Novo, é comum os chineses limparem a casa inteira. Além disso, eles aproveitam a oportunidade para cortar o cabelo, fechar as contas, colocar oferendas para os deuses que cuidam da casa, preparar as roupas, entre outros.
“Enfim, deixam tudo em ordem para a hora da passagem. Depois de tudo limpo e arrumado, todos os materiais de limpeza são colocados do lado de fora da casa para não espantar a sorte”, explica a professora Sumara Lorusso.
Entre as danças típicas estão as do Dragão e do Leão. Pelas crenças chinesas, a coreografia ajuda a trazer prosperidade, sorte e renovação durante o ano todo.
ENNY WU - Professora chinesa radicada no Brasil escreve a pronúncia de "Feliz Ano-Novo", no idioma do país dela. Crédito: Escola Nin Hao/Divulgação
Atrair a boa sorte e afugentar os maus espíritos
Também professora de idiomas na escola paulista Nin Hao, a chinesa Enny Wu diz que por lá, os conterrâneos ficam praticamente uma semana sem trabalhar por causa das festas de Ano-Novo.
“Os negócios fecham. Algumas fábricas param até duas semanas. No mundo inteiro onde tem chinês se comemora”. E no exercício para trazer coisas positivas... “Só falamos palavras boas durante o dia”, frisa.
Entre as comidinhas típicas está uma torta feita de arroz moído, que lembra uma pamonha, a “niangao”. “Nian”, diz a professora, lembra o som da palavra “ano”, mas em chinês, e “gao”, a sonoridade lembra “alto”, mas em chinês também. “Ao comermos ‘niangao’ simboliza que teremos um ano de sucesso, para o alto”.
No bairro da Liberdade, onde se concentram os imigrantes orientais na capital paulista, a data será celebrada nos dias 13 e 14 deste mês, na Praça da Liberdade. A celebração da chegada do ano já foi inserida, por meio da Lei nº 14.334/2007, no calendário oficial de festividades da maior metrópole da América Latina. Atualmente, esta é a maior festividade de comunidade aberta do país, e também o maior evento público realizado pela comunidade chinesa no Brasil.
A professora Sumara Lorusso explica, ainda, que entre as tradições para atrair boa sorte no Ano Novo chinês, na noite da virada, as crianças e os solteiros recebem do homem mais velho da família os famosos envelopes vermelhos, o “hong bao”, com dinheiro dentro.
“Esse ato representa generosidade e o desejo de boa sorte. Mas, atenção: o envelope só pode ser aberto depois da virada e não deve ficar exposto vazio, senão você pode atrair azar e espantar o dinheiro de perto de você”, alerta Sumara.
Durante a comemoração, as famosas lanternas vermelhas são acesas e penduradas diante da porta principal das casas e, como entre os ocidentais, os fogos de artifício são estourados. Entre os chineses, as duas atitudes têm por objetivo espantar os maus espíritos.